DA REPORTAGEM LOCAL

Em um de seus contos mais famosos, "Felicidade Clandestina", Clarice Lispector narra o sabor secreto de uma menina ao degustar aos poucos um exemplar de "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato, que ela "tomara emprestado" de uma amiga.
Será uma felicidade ainda mais clandestina, mais uma felicidade, o encontro de uma pequena confraria de leitores com um volume de textos da própria Lispector.
Instituição criada há quase dez anos, a Confraria dos Bibliófilos do Brasil lançou há pouco a edição "Dez Contos Selecionados de Clarice Lispector", com uma dezena das melhores narrativas breves da escritora acompanhadas de gravuras especiais do paulista Marcelo Grassmann, 79.
Mesmo sendo recordista nacional de estudos a seu respeito, de ter um dos fãs-clubes mais barulhentos da literatura brasileira e com sua obra sempre em catálogo, Lispector faz neste volume, segundo seu filho, a estréia em um livro de luxo.
Foi ele, Paulo Gurgel Valente, quem selecionou, com o presidente da CBB, José Salles Neto, os contos impressos em processo totalmente artesanal para os associados do grupo de bibliófilos.
O 13º título editado por essa instituição com sede em Brasília saiu com tiragem de apenas 350 exemplares (do luxuoso "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, foram impressos 3.000 cópias). Mas ainda que de acesso bem clandestino, a confraria tem algumas poucas vagas (e alguns tantos exemplares) disponíveis -e nela não se gasta mais do que R$ 300/ano, com direito a dois volumes de luxo.
A edição de "Dez Contos", onde estão textos como "A Galinha", "O Corpo" e outros "standards" da narrativa de pernas curtas brasileira, tem um apêndice pouco comum nas edições da Confraria. Além das ilustrações ao longo do livro, o volume traz no final uma série de gravuras de Grassmann, com impressão especial, batizada de "Suíte Marcelo Grassmann".
Não é o único "extra" do volume dos bibliófilos. O trabalho é apresentado de modo pouco usual pelo filho da escritora. Gurgel Valente faz na introdução uma entrevista consigo mesmo sobre sua mãe.
No texto "Entrevista Comigo Mesmo: Clarice", ele fala especialmente sobre um trabalho que organizou com os textos da mãe, a coletânea de crônicas "A Descoberta do Mundo".
E é esse livro que cerca outra boa nova, menos clandestina, para os clariceanos. Está saindo pela editora Rocco o volume "Aprendendo a Viver", que reorganiza "A Descoberta". em versão mais enxuta (e pessoal).
(CASSIANO ELEK MACHADO) DEZ CONTOS SELECIONADOS DE