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Direitos humanos são tema de filme-mosaico
Obra reúne 22 curtas de 3 minutos, de nomes como Walter Salles e Jia Zhang-ke
Para realizar "Histórias sobre Direitos Humanos", que estréia hoje no Cinesesc, a ONU convidou cineastas de diversos países
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Um manifesto humanitário
em 22 atos. Para celebrar os 60
anos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos, um variado grupo de artistas do mundo inteiro foi convidado pelas
Nações Unidas a dar a sua visão
do documento que representa
o ideal, tantas vezes pisoteado,
de respeito e liberdade entre as
pessoas e as nações.
O resultado é o filme "Stories
on Human Rights" (Histórias
sobre Direitos Humanos), um
vibrante retrato da diversidade
humana que terá sua estréia
mundial hoje, no Cinesesc (o
Sesc é um dos patrocinadores).
São 22 curtas de três minutos, dirigidos por cineastas, artistas e escritores sob a inspiração de seis temas da Declaração: cultura, desenvolvimento,
dignidade e justiça, meio ambiente, igualdade de gênero e
participação política.
Encomendado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos, o
filme é o projeto central da
ONU para marcar as seis décadas de seu documento mais conhecido. Um dos curtas, ambientado em uma favela do Rio,
é de autoria dos brasileiros
Walter Salles e Daniela Thomas. "Queríamos criadores
premiados, mas ao mesmo
tempo independentes", disse a
produtora do filme, Adelina
von Fürstenberg, após a primeira exibição da obra, numa
sessão privada à qual a Folha
esteve presente, em Genebra.
A ONU não interferiu na escolha dos artistas, mas os trabalhos passaram por uma comissão de especialistas. Só um
dos filmes foi vetado, o feito pelo norte-americano Bob Wilson a partir de frases do Nobel
de literatura Gao Xingjian projetadas sobre o corpo humano.
Uma delas incomodou especialistas: "A solidão é uma condição necessária para a liberdade". Foi considerada contrária
aos princípios da Declaração.
Crítica e humor
Embora os produtores tenham buscado criar uma visão
eminentemente artística dos
direitos humanos, a crítica social e política não ficou de fora.
Um dos exemplos mais duros
é o filme do russo Sergei Bodrov, que mostra um casal
prestes a adotar um bebê. Tudo
parece caminhar para um final
feliz, quando a enfermeira informa que "falta um documento" -a senha para um suborno.
Sem dinheiro à vista, o bebê é
arrancado dos braços dos futuros pais e devolvido a um berçário, como uma mercadoria.
Também não falta humor.
Curiosamente, ele está presente tanto no filme israelense, do
casal Etgar Keret e Shira Geffen, quanto no palestino, de
Hani Abu-Assad. No primeiro,
em atmosfera que lembra "Esperando Godot", de Beckett,
animais falantes dão o tom de
absurdo das relações de poder.
No segundo, crianças palestinas transformam em brincadeira a rotina de violência sob
ocupação militar.
O filme é ligado de forma totalmente livre pelo fio dos
ideais humanitários e compõe
um rico mosaico da condição
humana. Um triunfo, em se tratando de obra encomendada.
"Quem assistir comprovará
que não é propaganda nem
uma visão complacente. É uma
obra de arte", diz Adelina.
HISTÓRIAS DE DIREITOS
HUMANOS
Produção: Diversos, 2008
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas, Marina Abramovic (Sérvia/Holanda), Teresa Serrano (México), Saman Salour (Irã), entre outros
Quando: estréia mundial hoje, no Cinesesc, 20h30; grátis
Classificação: não indicado para menores de 12 anos
Veja o trailer em www.artfortheworld.net
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