São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Direitos humanos são tema de filme-mosaico

Obra reúne 22 curtas de 3 minutos, de nomes como Walter Salles e Jia Zhang-ke

Para realizar "Histórias sobre Direitos Humanos", que estréia hoje no Cinesesc, a ONU convidou cineastas de diversos países


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Um manifesto humanitário em 22 atos. Para celebrar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um variado grupo de artistas do mundo inteiro foi convidado pelas Nações Unidas a dar a sua visão do documento que representa o ideal, tantas vezes pisoteado, de respeito e liberdade entre as pessoas e as nações.
O resultado é o filme "Stories on Human Rights" (Histórias sobre Direitos Humanos), um vibrante retrato da diversidade humana que terá sua estréia mundial hoje, no Cinesesc (o Sesc é um dos patrocinadores).
São 22 curtas de três minutos, dirigidos por cineastas, artistas e escritores sob a inspiração de seis temas da Declaração: cultura, desenvolvimento, dignidade e justiça, meio ambiente, igualdade de gênero e participação política.
Encomendado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o filme é o projeto central da ONU para marcar as seis décadas de seu documento mais conhecido. Um dos curtas, ambientado em uma favela do Rio, é de autoria dos brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas. "Queríamos criadores premiados, mas ao mesmo tempo independentes", disse a produtora do filme, Adelina von Fürstenberg, após a primeira exibição da obra, numa sessão privada à qual a Folha esteve presente, em Genebra.
A ONU não interferiu na escolha dos artistas, mas os trabalhos passaram por uma comissão de especialistas. Só um dos filmes foi vetado, o feito pelo norte-americano Bob Wilson a partir de frases do Nobel de literatura Gao Xingjian projetadas sobre o corpo humano.
Uma delas incomodou especialistas: "A solidão é uma condição necessária para a liberdade". Foi considerada contrária aos princípios da Declaração.

Crítica e humor
Embora os produtores tenham buscado criar uma visão eminentemente artística dos direitos humanos, a crítica social e política não ficou de fora.
Um dos exemplos mais duros é o filme do russo Sergei Bodrov, que mostra um casal prestes a adotar um bebê. Tudo parece caminhar para um final feliz, quando a enfermeira informa que "falta um documento" -a senha para um suborno.
Sem dinheiro à vista, o bebê é arrancado dos braços dos futuros pais e devolvido a um berçário, como uma mercadoria.
Também não falta humor.
Curiosamente, ele está presente tanto no filme israelense, do casal Etgar Keret e Shira Geffen, quanto no palestino, de Hani Abu-Assad. No primeiro, em atmosfera que lembra "Esperando Godot", de Beckett, animais falantes dão o tom de absurdo das relações de poder.
No segundo, crianças palestinas transformam em brincadeira a rotina de violência sob ocupação militar.
O filme é ligado de forma totalmente livre pelo fio dos ideais humanitários e compõe um rico mosaico da condição humana. Um triunfo, em se tratando de obra encomendada.
"Quem assistir comprovará que não é propaganda nem uma visão complacente. É uma obra de arte", diz Adelina.

HISTÓRIAS DE DIREITOS HUMANOS
Produção: Diversos, 2008
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas, Marina Abramovic (Sérvia/Holanda), Teresa Serrano (México), Saman Salour (Irã), entre outros
Quando: estréia mundial hoje, no Cinesesc, 20h30; grátis
Classificação: não indicado para menores de 12 anos

Veja o trailer em www.artfortheworld.net



Texto Anterior: Bossa nova embala Ballet Stagium
Próximo Texto: Crítica: Curtas fazem denúncia e experimentos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.