São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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Leia sonho de Babenco

da Equipe de Articulistas

Leia abaixo o sonho que o diretor Hector Babenco teve dois dias antes de começar a filmar "Coração Iluminado", tal como relatado pelo cineasta à Folha.
(JGC)

"Eis o meu sonho: eu estava diante de um guichê, que era um buraco retangular na parede branca. Não via a cara de funcionário nenhum, mas era ali que davam permissões para filmar.
Estava ao meu lado um homem que, no sonho, achei que era o Walter Salles. Pensei ao vê-lo: "Já chegou alguém antes de mim e mais jovem'. Dão a ele a permissão. Ele me olha e diz: "Você não é o Babenco?' Eu digo: "Sou'.
Então ele me diz: "Acho que meu avô era muito amigo seu'. Eu respondo: "Impossível, cara. Eu sou mais velho que você, mas só alguns anos'. E ele: "Então você era amigo do meu pai ou do meu tio'. Eu digo: "É possível, mas também sou teu amigo'.
Na verdade, fiquei meio puto. Encontrei um problema de gerações disputando o mesmo guichê onde se outorgavam permissões para ser diretor de cinema.
Nesse momento eu saio e entro numa sala gigante, com rodapés gigantes, e vejo um grande avião maravilhoso, metálico, sem cabine, parecido com o do "Brincando nos Campos do Senhor', mas novo, reluzente.
Estou com um cabo que é como o daqueles ferros de passar roupa antigos, de corda preta. Estou com o plug na mão, percorrendo o rodapé e procurando uma tomada para enfiá-lo. Cada vez que eu encontrava uma tomada, meu plug não encaixava. Eu não conseguia estabelecer contato com o "power', a energia.
Até que eu vejo um pedaço de rodapé implantado em cima do rodapé. Um implante de rodapé (lembre-se que eu fiz um implante). Eu enfio meu plug lá, e ele encaixa direitinho.
Eu olho para o avião e a hélice começa a girar lentamente. Nesse momento, eu me olho e estou de botas de caubói, blue jeans e camisa xadrez. Ponho minha mão no avião -que tinha uns três metros de altura- e salto para o cockpit como se eu montasse num cavalo sem pôr a mão no estribo. Penso: "Caramba, um momento atrás eu não tinha essa energia'.
Vejo a hélice, que gira cada vez mais forte. Enquanto ela ganha velocidade, ela está escura. Quando atinge a velocidade máxima e fica transparente, eu vejo através dela, no chão, o Gordo e o Magro me fazendo tchau.
Não preciso ir num psicanalista para contar o que esse sonho significa. Pense em tudo o que o Gordo e o Magro representam: a alegria, o cinema, o showbusiness...
Acordei, escrevi o sonho imediatamente e depois mandei por fax para o Waltinho."



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