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LITERATURA
Ricardo Alberto Pérez chega para refúgio no RS
"Fui perseguido", diz escritor cubano
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre
O poeta e ensaísta cubano Ricardo Alberto Pérez, 35, chegou anteontem a Passo Fundo (RS), a primeira cidade latino-americana a
integrar a rede de "refúgios" para
autores perseguidos, coordenada
pelo Parlamento Internacional de
Escritores, com sede em Estrasburgo (França).
Foi a primeira vez que Pérez saiu
de Cuba, onde, a partir de 1995,
quando redigiu uma carta aberta
condenando a censura, começou a
ser "perseguido" pelo regime de
Fidel Castro. Ele viverá um ano na
cidade gaúcha, recebendo moradia
e R$ 1.500 da prefeitura. Em troca,
fará palestras e desenvolverá outras atividades na universidade local. Pérez pretende publicar uma
antologia de poesias cubanas e escrever sobre os direitos civis e a
cultura em Cuba.
Ganhador do Prêmio Nacional
da Crítica Literária, em 93, concedido pelo Instituto Cubano do Livro, ele disse que sentia uma sensação "de muita liberdade" no aeroporto de Porto Alegre, onde falou à
Folha. "Dou-me conta de que posso fazer uma coisa ou outra. Estou
acostumado a não poder fazer isso
ou aquilo. Essa sensação é dolorosíssima, traumatizante", declarou.
Em Passo Fundo, ele pretende divulgar aspectos da cultura cubana
e tomar contato direto com a cultura brasileira, lendo autores que
admira, como Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Paulo
Leminski, entre outros.
Pérez, que fazia parte do grupo
"Diáspora", integrado por intelectuais críticos ao regime político da
ilha, condena a falta de liberdade
para os cidadãos cubanos terem
acesso à Internet, por exemplo. Reconhece, porém, algumas virtudes
do seu país, como a qualidade do
ensino e do serviço de saúde.
Motivos da saída de Cuba - "A
decisão não foi só minha, mas de
intelectuais, em nível internacional, que acharam ser conveniente
eu sair. Minha situação com o Estado estava um pouco tensa. Um
reduzido grupo de intelectuais cubanos começou a ter uma atitude
de oposição às leis arbitrárias, que
violam os direitos civis mais elementares. No caso dos intelectuais,
violam também a integridade crítica. Rolando Sanchez Mejias e eu
escrevemos uma carta aberta a
partir de um dossiê que me foi retirado. Protestamos contra esse fato
e denunciamos as principais submissões que o poder político exercia sobre os intelectuais. Tenho
provas de que fui pressionado e
perseguido."
Justiça social x direitos civis -
"A justiça social (em Cuba) não é
mentira. A educação e a saúde estão corretas. Mas é preciso separar
bem as coisas. Isso não dá direito a
limitar os direitos civis, como viajar livremente. No mundo, só dois
países proíbem que uma pessoa,
individualmente, se integre à Internet: Cuba e Líbia. Há um artigo
no parlamento cubano proibindo
isso. A China controla, mas não
proíbe. Em Cuba, só personalidades importantes têm acesso à Internet, por intermédio de um ministério. O povo, não. Quase 85%
da Constituição cubana tratam de
direitos sociais. Os direitos políticos praticamente não existem."
"Exílio estéril" - "Os cubanos
exilados em Miami (EUA), em sua
maioria, perderam seus valores,
sofreram o trauma da desculturização. Converteram-se em gente
que não tem terra, tampouco cultura. Americanizaram-se. O exílio
cubano em Miami é estéril, não é
forte culturalmente. Não representa a cultura de resistência. Mas há
exceções, como Carlos Victoria e
Ramon Alejandro, um pintor muito famoso em Paris."
Ministro ajuda abertura - "O
ministro da Cultura, Abel Prieto, é
uma pessoa de muito boas intenções. Tem bastante poder dentro
das esferas do governo. É inteligente e culto. É mais inteligente
que os velhos políticos. Parece que
o presidente Castro dá espaço a
Prieto. Castro está disposto a mudar dentro dos seus cânones para
seguir governando. Deu-se conta
de que se não for mais flexível, não
segue governando.
²
O colunista
Carlos Heitor Cony está em férias.
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