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Estilo publicitário predomina em "Alô?!"
da Equipe de Articulistas
Uma comédia deve ser julgada
por sua capacidade de fazer rir.
Todo o resto -tema, estilo, valores de produção- é secundário.
Nisso reside a dificuldade de avaliar uma comédia sem a ter visto
junto com um público numeroso.
Se o crítico riu pouco de "Alô?!"
na solitária projeção a que assistiu,
a causa disso pode ser a falta de
sintonia do humor do filme com o
humor do crítico -algo que seria
relativizado numa sessão com a sala cheia. Assim como a gripe, o riso
também é contagioso.
O que sobra, então, é comentar
os tais fatores secundários: tema,
estilo, valores de produção.
O tema é feliz e oportuno: as infinitas maneiras que os brasileiros
de todas as classes encontram de
passar a perna nos outros. Da madame ao mendigo, todos aplicam
seus grandes e pequenos golpes.
Tudo gira em torno de um casal
burguês paulistano: Dora (Betty
Lago) e Mário Augusto (Herbert
Richers Jnr.). Ela é dona de butique nos Jardins, ele é empresário
do ramo imobiliário.
Pelo apartamento do casal passam os outros picaretas: a doméstica Maria (Myrian Muniz), seu irmão vigarista José (Wellington
Nogueira), o ladrão Necão (Marcio
Ribeiro) etc.
"Alô?!" busca o humor nos cruzamentos imprevistos entre esses
personagens, envolvidos numa intrincada trama que inclui um bilhete de loteria premiado e desaparecido, a lucrativa venda de um
terreno na periferia e o acerto de
contas entre ladrões.
Confusão em ritmo frenético, à
maneira das velhas comédias malucas americanas, misturada ao escracho das nossas chanchadas.
O que há de mais interessante
nisso são os choques culturais e sociais: o executivo num ônibus de
periferia, o ladrão pé-de-chinelo
num apartamento de luxo etc.
O "povo", no filme, aparece folclorizado e caricaturado ao extremo. Busca-se o riso pelo excesso.
Caretas, música enfática, figurino
grotesco -tudo se acumula, com
resultados duvidosos.
O personagem mais interessante
é a doméstica Maria, brilhantemente vivida por Myrian Muniz. É
a síntese viva da nossa corrupção:
agenciando as empregadas do prédio, serve-se de seu poder clientelista para cobrar propina de açougueiros e feirantes, que se submetem a ela para manter a freguesia.
Em contraste com o humor popular do filme, sua produção é requintada e seu estilo é, predominantemente, o publicitário. Resta
esperar a reação do público.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
²
Filme: Alô?!
Produção: Brasil, 1998
Direção: Mara Mourão
Com: Betty Lago, Herbert Richers Jnr.,
Myrian Muniz
Quando: a partir de hoje, nos cines Gemini
2, West Plaza 4 e circuito
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