São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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Estilo publicitário predomina em "Alô?!"

da Equipe de Articulistas

Uma comédia deve ser julgada por sua capacidade de fazer rir. Todo o resto -tema, estilo, valores de produção- é secundário.
Nisso reside a dificuldade de avaliar uma comédia sem a ter visto junto com um público numeroso.
Se o crítico riu pouco de "Alô?!" na solitária projeção a que assistiu, a causa disso pode ser a falta de sintonia do humor do filme com o humor do crítico -algo que seria relativizado numa sessão com a sala cheia. Assim como a gripe, o riso também é contagioso.
O que sobra, então, é comentar os tais fatores secundários: tema, estilo, valores de produção.
O tema é feliz e oportuno: as infinitas maneiras que os brasileiros de todas as classes encontram de passar a perna nos outros. Da madame ao mendigo, todos aplicam seus grandes e pequenos golpes.
Tudo gira em torno de um casal burguês paulistano: Dora (Betty Lago) e Mário Augusto (Herbert Richers Jnr.). Ela é dona de butique nos Jardins, ele é empresário do ramo imobiliário.
Pelo apartamento do casal passam os outros picaretas: a doméstica Maria (Myrian Muniz), seu irmão vigarista José (Wellington Nogueira), o ladrão Necão (Marcio Ribeiro) etc.
"Alô?!" busca o humor nos cruzamentos imprevistos entre esses personagens, envolvidos numa intrincada trama que inclui um bilhete de loteria premiado e desaparecido, a lucrativa venda de um terreno na periferia e o acerto de contas entre ladrões.
Confusão em ritmo frenético, à maneira das velhas comédias malucas americanas, misturada ao escracho das nossas chanchadas.
O que há de mais interessante nisso são os choques culturais e sociais: o executivo num ônibus de periferia, o ladrão pé-de-chinelo num apartamento de luxo etc.
O "povo", no filme, aparece folclorizado e caricaturado ao extremo. Busca-se o riso pelo excesso. Caretas, música enfática, figurino grotesco -tudo se acumula, com resultados duvidosos.
O personagem mais interessante é a doméstica Maria, brilhantemente vivida por Myrian Muniz. É a síntese viva da nossa corrupção: agenciando as empregadas do prédio, serve-se de seu poder clientelista para cobrar propina de açougueiros e feirantes, que se submetem a ela para manter a freguesia.
Em contraste com o humor popular do filme, sua produção é requintada e seu estilo é, predominantemente, o publicitário. Resta esperar a reação do público.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
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Filme: Alô?! Produção: Brasil, 1998 Direção: Mara Mourão Com: Betty Lago, Herbert Richers Jnr., Myrian Muniz Quando: a partir de hoje, nos cines Gemini 2, West Plaza 4 e circuito



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