São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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TEATRO
Peça escrita por Oswaldo Mendes e dirigida por Márika Gidali estréia hoje no Centro Cultural São Paulo
"Voltaire" prega deboche ao fanatismo

da Reportagem Local

"A ação se passa em qualquer lugar de um tempo qualquer. Enfim, o autor não tem a mínima idéia de quando e onde se passa essa fábula (...). Mas suspeita que esse tempo e lugar estejam mais próximos do que possam supor todas as vãs religiões. E lamenta."
Exatamente assim, sem formalidades nem pompa, começa "Voltaire - Deus Me Livre e Guarde", peça do jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo sob direção de Márika Gidali.
Inspirada no "Dicionário Filosófico", do filósofo e escritor François Marie Arouet, ou apenas Voltaire (1694-1778), essa comédia musical fala de Deus, fé, religião e, especialmente, fanatismo.
Mas, é importante dizer, o pensador francês apenas serviu de breve referência para a peça. "Voltaire não pode ser responsabilizado por nenhuma heresia que não as suas e já conhecidas" está registrado em determinado trecho do texto.
Em poucas palavras: Mestre Logômaco prega os ensinamentos do Senhor a seus fanáticos fiéis. Num certo dia, um deles, Dondindac, nem tão fanático assim, recebe a ilustre visita de Deus. Na pele de um jovem homem, Ele decide dar uma lição em Logômaco.
"Em 93, encontrei nos meus guardados uma cena que havia escrito para um espetáculo que tentei fazer com o Ademar Guerra (diretor de peças históricas como "Marat/ Sade", morto em 1993) e a Márika. A partir daí, elaborei a estrutura do que seria a peça e, em menos de um mês, estava com o texto pronto", contou Mendes.
Para dirigir a montagem, ele resolveu chamar uma velha amiga, a bailarina húngara Márika Gidali, parceira de trabalhos como "Missa Leiga" (1972). Nascida em Budapeste, Márika é fundadora, ao lado de Décio Otero, do Ballet Stagium (leia texto ao lado).
"A questão religiosa sempre esteve na minha cabeça. Em uma mesma nação, você vê correntes religiosas se digladiando. Por que Deus serve para isso? Motivado por esses aspectos, escrevi "Voltaire'", diz o autor, que também trabalha como ator no espetáculo.
Sem conflitos dramaturgo x diretor, Mendes explica que, assim que iniciou os ensaios com Márika, teve de "matar" o autor. Sorridente, a bailarina-diretora acrescenta: "Foi um exercício de modéstia".
Diferenciando fé e fanatismo, Márika conta que a liberdade predominou durante todo o processo de trabalho com os atores. "Cada ser humano tem sua fé. Minha direção foi nesse sentido, de liberdade total, de respeitar a fé de cada um. E sem seguir linhas ou estilos específicos de interpretação."
O elenco, eclético, reúne 13 atores, entre experientes e estreantes. "Queremos mostrar que não há problema em ter fé, mas que ela seja livre, sem manipulações", finaliza Mendes. (ERIKA SALLUM)
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Peça: Voltaire - Deus Me Livre e Guarde Autor: Oswaldo Mendes Direção: Márika Gidali Com: Márcio Tadeu, Marcília Rosário, Oswaldo Mendes, entre outros Quando: de quinta a sábado, às 21h30; domingo, às 19h Onde: Centro Cultural São Paulo - Espaço Cênico Ademar Guerra (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611) Quanto: R$ 12 e R$ 6 (estudantes) Patrocinador: Volkswagen


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