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TEATRO
Peça escrita por Oswaldo Mendes e dirigida por Márika Gidali estréia hoje no Centro Cultural São Paulo
"Voltaire" prega deboche ao fanatismo
da Reportagem Local
"A ação se passa em qualquer lugar de um tempo qualquer. Enfim,
o autor não tem a mínima idéia de
quando e onde se passa essa fábula
(...). Mas suspeita que esse tempo e
lugar estejam mais próximos do
que possam supor todas as vãs religiões. E lamenta."
Exatamente assim, sem formalidades nem pompa, começa "Voltaire - Deus Me Livre e Guarde",
peça do jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes que estréia
hoje no Centro Cultural São Paulo
sob direção de Márika Gidali.
Inspirada no "Dicionário Filosófico", do filósofo e escritor François Marie Arouet, ou apenas Voltaire (1694-1778), essa comédia
musical fala de Deus, fé, religião e,
especialmente, fanatismo.
Mas, é importante dizer, o pensador francês apenas serviu de breve
referência para a peça. "Voltaire
não pode ser responsabilizado por
nenhuma heresia que não as suas e
já conhecidas" está registrado em
determinado trecho do texto.
Em poucas palavras: Mestre Logômaco prega os ensinamentos do
Senhor a seus fanáticos fiéis. Num
certo dia, um deles, Dondindac,
nem tão fanático assim, recebe a
ilustre visita de Deus. Na pele de
um jovem homem, Ele decide dar
uma lição em Logômaco.
"Em 93, encontrei nos meus
guardados uma cena que havia escrito para um espetáculo que tentei fazer com o Ademar Guerra (diretor de peças históricas como
"Marat/ Sade", morto em 1993) e a
Márika. A partir daí, elaborei a estrutura do que seria a peça e, em
menos de um mês, estava com o
texto pronto", contou Mendes.
Para dirigir a montagem, ele resolveu chamar uma velha amiga, a
bailarina húngara Márika Gidali,
parceira de trabalhos como "Missa
Leiga" (1972). Nascida em Budapeste, Márika é fundadora, ao lado
de Décio Otero, do Ballet Stagium
(leia texto ao lado).
"A questão religiosa sempre esteve na minha cabeça. Em uma mesma nação, você vê correntes religiosas se digladiando. Por que
Deus serve para isso? Motivado
por esses aspectos, escrevi "Voltaire'", diz o autor, que também trabalha como ator no espetáculo.
Sem conflitos dramaturgo x diretor, Mendes explica que, assim que
iniciou os ensaios com Márika, teve de "matar" o autor. Sorridente,
a bailarina-diretora acrescenta:
"Foi um exercício de modéstia".
Diferenciando fé e fanatismo,
Márika conta que a liberdade predominou durante todo o processo
de trabalho com os atores. "Cada
ser humano tem sua fé. Minha direção foi nesse sentido, de liberdade total, de respeitar a fé de cada
um. E sem seguir linhas ou estilos
específicos de interpretação."
O elenco, eclético, reúne 13 atores, entre experientes e estreantes.
"Queremos mostrar que não há
problema em ter fé, mas que ela seja livre, sem manipulações", finaliza Mendes.
(ERIKA SALLUM)
²
Peça: Voltaire - Deus Me Livre e Guarde
Autor: Oswaldo Mendes
Direção: Márika Gidali
Com: Márcio Tadeu, Marcília Rosário,
Oswaldo Mendes, entre outros
Quando: de quinta a sábado, às 21h30;
domingo, às 19h
Onde: Centro Cultural São Paulo - Espaço
Cênico Ademar Guerra (r. Vergueiro, 1.000,
tel. 011/277-3611)
Quanto: R$ 12 e R$ 6 (estudantes)
Patrocinador: Volkswagen
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