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MÚSICA ELETRÔNICA
Adeus, amigos
De olho nos jovens, empresas descobrem o gênero do pop para se modernizar
CAMILO ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Há um ano, um diretor de marketing que propusesse terminar a
associação da marca de sua empresa com a popularíssima música sertaneja para vinculá-la ao
movimento eletrônico, cuja música toca pouco no rádio e não tem
ídolos pop, seria considerado insano. Mas muita coisa mudou no
mundo do marketing brasileiro
nesse meio tempo.
Veja o caso da Bavaria, a cerveja
"dos amigos", do Chitãozinho e
Xororó. Recentemente, ela se associou à marca de roupas Triton
para trazer Felix Da Housecat, DJ
de house underground de Chicago, com zero hits por aqui. Saiu
Chitãozinho, entrou house de
Chicago.
Em 2001, várias empresas resolveram morder o filão da música
eletrônica. Em 2002, elas pretendem botar como nunca suas marcas em raves, clubes, festas, DJs e
workshops.
"Fizemos pesquisas para ver
que música teria uma cara urbana, jovem e moderna. Deu eletrônico", diz Agatha Arêas, gerente
de eventos e promoção da Bavaria. "Em pesquisas feitas no interior, descobrimos que o sertanejo
meio que já foi." A Bavaria pós-banho de loja virou Bavaria Vibe.
Programou 30 ações entre o fim
deste ano e 2002. Só duas devem
acontecer à noite. As outras 28 são
"sunset parties", ou festas do entardecer, quando DJs tocam música suave e divagante, sons de
chill-out, à medida que o sol se
põe. É um conceito inspirado no
famoso Café del Mar, de Ibiza.
Entre os DJs de pôr-do-sol que a
Bavaria promete estão Chris Coco
(também editor da revista "Muzik") e Bruno Lepetre, residente
do Café del Mar. Outros gringos à
vista no projeto incluem Derrick
May, pioneiro do tecno, Junior
Sanchez e Darren Pearce.
Sua maior cartada, o DJ inglês
Carl Cox, gigante do tecno prometido para o Carnaval, permanece "quase confirmado".
O conceito do som manso do
chill-out fez sucesso entre o marketing corporativo. A Skol, que
fez o primeiro festival eletrônico
Skol Beats em 2000, diversificou
suas ações e está bancando o Skol
Spirit, projeto que levará DJs gringos e nacionais de batidas tranquilas às praias de Maresias, Porto
de Galinhas e Praia Mole (Florianópolis) durante o verão.
Todas as empresas ouvidas batem na tecla da qualidade em
oposição à quantidade. O objetivo
das ações corporativas tem mais a
ver com dar um perfil moderno e
cool à marca do que com garantir
mais vendas no curto prazo.
"É importante para nós estar à
frente das tendências, o que nos
identifica com nosso público-alvo", confirma Andres Consuegra,
diretor de marketing da Guinness
UDV, fabricante da Smirnoff,
Johnnie Walker e J&B.
Para a Red Bull, é também mais
uma questão de atrair o consumidor com um conceito do que dizer "compre porque o nosso é
melhor". Segundo o departamento de comunicação da empresa,
"música eletrônica traduz a filosofia da marca: é inovadora, criativa e diferente".
"Vamos entrar nessa praia em
2002," garante Rogério Brandão,
diretor de programação da DirecTV. "Com a música eletrônica,
podemos pegar uma seara muito
maior, que vai dos 18 aos 40
anos." A DirecTV patrocina a vinda do DJ Rush, de Chicago, para a
segunda edição da rave Circuito,
em janeiro. A empresa quer transmitir parte da festa ao vivo, algo
nunca feito no Brasil antes.
A companhia também andou
conversando com a produtora
Motor Music, de Belo Horizonte,
para possivelmente trazer Chemical Brothers, Norman Cook ou
Goldie. Nada acertado ainda.
Para Brandão, também é mais
prático lidar com DJs do que com
bandas de rock. "Para trazer custa
menos, na hora de filmar a montagem é mais simples. E paga-se
menos direitos autorais de músicas para transmitir o evento."
Segundo André Barcinski, sócio
da Circuito, que organiza raves, e
da Garagem, que faz shows de
rock, trazer um DJ é mais compensador, mas não pelo cachê em
si. "O cachê da [banda de rock]
Mudhoney foi menor que o do
[DJ alemão] Chris Liebing. Só que
o Liebing veio só com a mulher, já
o Mudhoney veio com seis pessoas." Fora passagens e hospedagens, são também mais vistos de
trabalho e excesso de bagagem
por causa dos equipamentos. "O
Green Day traz 15 pessoas quando
viaja", lembra Barcinski.
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