São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2001

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MÚSICA ELETRÔNICA

Adeus, amigos

De olho nos jovens, empresas descobrem o gênero do pop para se modernizar

CAMILO ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há um ano, um diretor de marketing que propusesse terminar a associação da marca de sua empresa com a popularíssima música sertaneja para vinculá-la ao movimento eletrônico, cuja música toca pouco no rádio e não tem ídolos pop, seria considerado insano. Mas muita coisa mudou no mundo do marketing brasileiro nesse meio tempo.
Veja o caso da Bavaria, a cerveja "dos amigos", do Chitãozinho e Xororó. Recentemente, ela se associou à marca de roupas Triton para trazer Felix Da Housecat, DJ de house underground de Chicago, com zero hits por aqui. Saiu Chitãozinho, entrou house de Chicago.
Em 2001, várias empresas resolveram morder o filão da música eletrônica. Em 2002, elas pretendem botar como nunca suas marcas em raves, clubes, festas, DJs e workshops.
"Fizemos pesquisas para ver que música teria uma cara urbana, jovem e moderna. Deu eletrônico", diz Agatha Arêas, gerente de eventos e promoção da Bavaria. "Em pesquisas feitas no interior, descobrimos que o sertanejo meio que já foi." A Bavaria pós-banho de loja virou Bavaria Vibe.
Programou 30 ações entre o fim deste ano e 2002. Só duas devem acontecer à noite. As outras 28 são "sunset parties", ou festas do entardecer, quando DJs tocam música suave e divagante, sons de chill-out, à medida que o sol se põe. É um conceito inspirado no famoso Café del Mar, de Ibiza.
Entre os DJs de pôr-do-sol que a Bavaria promete estão Chris Coco (também editor da revista "Muzik") e Bruno Lepetre, residente do Café del Mar. Outros gringos à vista no projeto incluem Derrick May, pioneiro do tecno, Junior Sanchez e Darren Pearce.
Sua maior cartada, o DJ inglês Carl Cox, gigante do tecno prometido para o Carnaval, permanece "quase confirmado".
O conceito do som manso do chill-out fez sucesso entre o marketing corporativo. A Skol, que fez o primeiro festival eletrônico Skol Beats em 2000, diversificou suas ações e está bancando o Skol Spirit, projeto que levará DJs gringos e nacionais de batidas tranquilas às praias de Maresias, Porto de Galinhas e Praia Mole (Florianópolis) durante o verão.
Todas as empresas ouvidas batem na tecla da qualidade em oposição à quantidade. O objetivo das ações corporativas tem mais a ver com dar um perfil moderno e cool à marca do que com garantir mais vendas no curto prazo.
"É importante para nós estar à frente das tendências, o que nos identifica com nosso público-alvo", confirma Andres Consuegra, diretor de marketing da Guinness UDV, fabricante da Smirnoff, Johnnie Walker e J&B.
Para a Red Bull, é também mais uma questão de atrair o consumidor com um conceito do que dizer "compre porque o nosso é melhor". Segundo o departamento de comunicação da empresa, "música eletrônica traduz a filosofia da marca: é inovadora, criativa e diferente".
"Vamos entrar nessa praia em 2002," garante Rogério Brandão, diretor de programação da DirecTV. "Com a música eletrônica, podemos pegar uma seara muito maior, que vai dos 18 aos 40 anos." A DirecTV patrocina a vinda do DJ Rush, de Chicago, para a segunda edição da rave Circuito, em janeiro. A empresa quer transmitir parte da festa ao vivo, algo nunca feito no Brasil antes.
A companhia também andou conversando com a produtora Motor Music, de Belo Horizonte, para possivelmente trazer Chemical Brothers, Norman Cook ou Goldie. Nada acertado ainda.
Para Brandão, também é mais prático lidar com DJs do que com bandas de rock. "Para trazer custa menos, na hora de filmar a montagem é mais simples. E paga-se menos direitos autorais de músicas para transmitir o evento."
Segundo André Barcinski, sócio da Circuito, que organiza raves, e da Garagem, que faz shows de rock, trazer um DJ é mais compensador, mas não pelo cachê em si. "O cachê da [banda de rock] Mudhoney foi menor que o do [DJ alemão] Chris Liebing. Só que o Liebing veio só com a mulher, já o Mudhoney veio com seis pessoas." Fora passagens e hospedagens, são também mais vistos de trabalho e excesso de bagagem por causa dos equipamentos. "O Green Day traz 15 pessoas quando viaja", lembra Barcinski.



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