HENRI CARRIÈRES
DA SUCURSAL DO RIO

Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, está virando uma página importante na história de sua recuperação. Três meses atrás não sabia se voltaria a compor novas canções. Próximo de voltar aos palcos paulistanos, amanhã e domingo no Credicard Hall, afirma que a inspiração volta a visitá-lo, pouco a pouco.
"É uma coisa que a gente vai ter no momento certo. Mas eu tenho algumas idéias iniciais. O fato de eu ter alguma coisa borbulhando nesse campo já me faz ter confiança", disse Vianna.
João Barone, baterista do grupo, confirma. "A Folha publicou os esboços de uma primeira letra [edição de 27 de setembro], mas aquilo é só um fragmento de um monte de idéias que ele já está tendo". Barone diz que o amigo "está com um caderninho no qual vai garrancheando as idéias". Depois, entusiasmado, mostra-as aos dois parceiros.
Vianna diz que perdeu a inibição de falar sobre sua vida interior, mas que reflexões transcendentais vão ficar de fora das novas composições. Ele não quer "nenhum tipo de maleada ou de pregação". Um assunto mais certo para futuras letras é sua "irmandade" com Barone e Ribeiro.
O cantor e guitarrista caiu de ultraleve no dia 4 de fevereiro de 2001, em Angra dos Reis (litoral fluminense). Sua mulher, Lucy Needham, com quem teve três filhos, não sobreviveu ao acidente. Este ano, ainda que numa cadeira de rodas, Vianna pôde subir novamente aos palcos.
No entanto, apesar da confiança em si, ele prefere não apressar nada: "Hoje me vem uma lufada de realismo de que não é amanhã, de que não é uma necessidade [compor novas músicas]".
Por enquanto, Vianna enfatiza que está se dedicando ao lançamento do novo disco da banda, "Longo Caminho", cujas canções que assina foram todas escritas antes da hospitalização.
"A gente já pensava em gravar esse disco de trio, com arranjos mais simples, antes do acidente", disse o baixista Bi Ribeiro. Mas a conclusão do projeto bruscamente interrompido assume, segundo Barone, um "sentido de renascimento" para o grupo. Não à toa, o show de abertura da turnê atual foi em João Pessoa, na Paraíba em que nasceu Vianna.
Apesar da recuperação veloz, ele ainda sente que está "no recomeço das operações mentais" -para fatos recentes, a memória falha com frequência. Mas medo de um "branco" durante os shows, ele não tem: "Se eventualmente me vem alguma incerteza, eu olho para eles [Ribeiro e Barone] e para o público e rio. Sei que os erros serão compensados pela compreensão".
Depois de meses de um "carrossel danado de emoções" -palavras de Barone-, os fãs se alegram em ver o grupo funcionando de novo. "Tudo [o que aconteceu] cria um quadro bastante favorável para o nosso reencontro com o público", diz Vianna.
Barone diz que "o grupo está com uma excitação enorme para fazer esse dois shows" em São Paulo. Ele lembra que os Paralamas, com os Titãs, fizeram o primeiro show aberto do Credicard Hall, em 1999.