São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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Filme retrata tristeza e utopia de Callado

Documentário dirigido por José Joffily acompanha esperanças do escritor e a descrença no final

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Junto à imagem famosa do "doce radical", o escritor Antonio Callado ganha uma outra contrastante no documentário "A Paixão Segundo Callado", realizado neste ano em que se completam dez de sua morte e 90 de seu nascimento: a do utópico que desencantou.
"Ele dizia: "O tempo está passando. Não somos mais uma nação jovem. Somos mais velhos do que os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália. Será que dará tempo de chegarmos com eles na linha do pênalti?". Ele pensava que devíamos ser uma nação mestiça da pesada. Quando morreu, estava triste", conta a primogênita Tessy Callado, 57, idealizadora do filme ao lado do irmão, Paulo.
Para conduzir o documentário, eles convidaram José Joffily, que lançou duas idéias: a de que o próprio Callado, por meio das entrevistas que deu, fosse uma espécie de narrador; e a de que dois netos do escritor, João e Júlio, funcionassem como um contraponto ao avô. "Embora ele tenha terminado a vida cético, nostálgico, os netos não herdaram esse desencanto. Pode consolar um pouco saber que, talvez, sua utopia seja alcançada por seus netos", diz Joffily ("Quem Matou Pixote?").
O documentário será lançado no sábado, às 11h, no Armazém Digital (av. Ataulfo de Paiva, 270/104, Leblon, tel. 0/xx/21/2274-5999), no Rio. Com 57 minutos, poderá ser exibido em TVs e será distribuído para escolas e universidades, mas não tem ambições comerciais.
Para Tessy e Joffily, independentemente do desencanto final, a história de Callado semeia esperança. Foi grande jornalista (atuou, entre outros, no "Correio da Manhã", em "O Globo" e na Folha); cobriu a Segunda Guerra para a BBC de Londres; voltou disposto a conhecer os grotões do Brasil; mergulhou na vida dos índios e produziu "Quarup", seu principal romance; e superou barreiras para, em 1969, ir ao Vietnã e contar como o país resistia ao poderio militar americano.
"É interessante notar como, uma geração antes da minha, acreditava-se realmente na transformação do mundo", diz Joffily, 62. O filme tem depoimentos de Ana Arruda Callado, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar, Fernanda Montenegro, João Ubaldo Ribeiro e outros, muitos em tom emocionado.


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