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Filme retrata tristeza e utopia de Callado
Documentário dirigido por José Joffily acompanha esperanças do escritor e a descrença no final
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Junto à imagem famosa do
"doce radical", o escritor Antonio Callado ganha uma outra
contrastante no documentário
"A Paixão Segundo Callado",
realizado neste ano em que se
completam dez de sua morte e
90 de seu nascimento: a do utópico que desencantou.
"Ele dizia: "O tempo está passando. Não somos mais uma
nação jovem. Somos mais velhos do que os Estados Unidos,
o Canadá, a Austrália. Será que
dará tempo de chegarmos com
eles na linha do pênalti?". Ele
pensava que devíamos ser uma
nação mestiça da pesada.
Quando morreu, estava triste",
conta a primogênita Tessy Callado, 57, idealizadora do filme
ao lado do irmão, Paulo.
Para conduzir o documentário, eles convidaram José Joffily, que lançou duas idéias: a de
que o próprio Callado, por meio
das entrevistas que deu, fosse
uma espécie de narrador; e a de
que dois netos do escritor, João
e Júlio, funcionassem como um
contraponto ao avô. "Embora
ele tenha terminado a vida cético, nostálgico, os netos não herdaram esse desencanto. Pode
consolar um pouco saber que,
talvez, sua utopia seja alcançada por seus netos", diz Joffily
("Quem Matou Pixote?").
O documentário será lançado no sábado, às 11h, no Armazém Digital (av. Ataulfo de Paiva, 270/104, Leblon, tel. 0/xx/21/2274-5999), no Rio. Com 57
minutos, poderá ser exibido em
TVs e será distribuído para escolas e universidades, mas não
tem ambições comerciais.
Para Tessy e Joffily, independentemente do desencanto final, a história de Callado semeia esperança. Foi grande jornalista (atuou, entre outros, no
"Correio da Manhã", em "O
Globo" e na Folha); cobriu a
Segunda Guerra para a BBC de
Londres; voltou disposto a conhecer os grotões do Brasil;
mergulhou na vida dos índios e
produziu "Quarup", seu principal romance; e superou barreiras para, em 1969, ir ao Vietnã e
contar como o país resistia ao
poderio militar americano.
"É interessante notar como,
uma geração antes da minha,
acreditava-se realmente na
transformação do mundo", diz
Joffily, 62. O filme tem depoimentos de Ana Arruda Callado,
Carlos Heitor Cony, Ferreira
Gullar, Fernanda Montenegro,
João Ubaldo Ribeiro e outros,
muitos em tom emocionado.
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