PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nada como Eliana, a apresentadora, para explicar o que diabos é "Eliana em o Segredo dos Golfinhos". Porque essa comercialmente bem-sucedida xerox de Xuxa nada mais é que uma versão B da original, uma reprodução em cores esmaecidas. E o filme dirigido por Eliana Fonseca é também uma cópia de outros infantis brasileiros, mas saindo ainda pior, toda borrada.
A reprodução se dá sobretudo a partir dos filmes de Xuxa, copiando sua estrutura dramática e fazendo pontes entre TV e cinema, como a de lembrar sobre a presença da marca Eliana, que alça vôos mais altos na mídia televisiva. Marca de sucesso, não haja dúvida, mas vazia, tão inexpressiva como o são os golfinhos.
Estes animais, simpáticos e idolatrados, também não estão à toa na tela. Eles são imagens sem peso dramático, apenas ganchos poderosos para o mais inusitado item de consumo lançado pelo longa: a Riviera Maia, no litoral mexicano. Sim, estamos sob achaque de uma agência de viagens, cujo folder promete fidelidade ecológica. Um jogo sem sutilezas, diga-se.
Não seria um desvario notarmos que o filme parece um daqueles comerciais de TV do 1406, onde vendedores maquiados e engravatados, visivelmente embusteiros, tentam nos vender os mais improváveis itens de consumo.
Porque "Eliana em o Segredo dos Golfinhos", com sua decupagem coalhada de closes ao pior estilo televisivo, também tenta nos seduzir do modo mais rasteiro, em diálogos que suspeitam do discernimento do espectador a todo instante. Diálogos ditos por um elenco de erros, e não pela clara limitação artística mas porque Eliana Fonseca não sabe criar sentido elevado na mise-en-scène.
Equipe e elenco como vendedores mal-ajambrados oferecendo algo pior que uma faca Guinzu: a certeza de que nem sempre é preciso muito caráter artístico para se levar a cabo a realização de um filme no Brasil. Num mar cinematográfico como o nosso, são como tubarões devorando golfinhos.