São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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"Monk" faz rir de agruras de detetive

1º ano da série estrelada por Tony Shalhoub tem mistério consistente, apesar da estrutura engessada

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Olhos de lince, fixação pelo detalhe e capacidade de dedução ímpar fazem de Adrian Monk um ás da investigação criminal, mas também catalisam a condição psiquiátrica que põe em risco sua carreira policial: o transtorno obsessivo-compulsivo.
O agudo senso de observação pode garantir que ele seja o único a vislumbrar um assassinato onde os outros vêem suicídio -desde que assimetrias não surjam em seu campo de visão, atordoando-o. "É uma bênção e uma maldição", resume o protagonista de "Monk", em um dos episódios da primeira temporada, que acaba de ser lançada em DVD.
As histórias iniciais acompanham o esforço de Monk para ser reintegrado à polícia de San Francisco. O desligamento "oficial" (já que, na prática, é ele quem soluciona muitos casos da corporação, na condição de consultor) ocorreu pouco após a morte de sua mulher. A razão? O agente começou a apresentar sintomas de TOC e exibir uma farta galeria de fobias.
Em virtude disso, vale o aviso: chame o homem para elucidar as ocorrências mais enigmáticas, mas certifique-se de que a cena do crime (ou o criminoso em fuga) esteja distante de escadas, rodas-gigantes e elevações afins. Para desespero de sua assistente Sharona (a ótima Bitty Schram) e de seu ex-chefe, o capitão Stottlemeyer (Ted Levine), Monk tampouco dá expediente perto de grandes concentrações humanas ou ambientes que não tenham sido previamente "higienizados" com germicidas.
As manias e esquisitices do detetive andam transcendendo a ficção. Na semana passada, em entrevista por telefone à imprensa internacional da qual a Folha participou, Tony Shalhoub, intérprete de Monk, contou que recentemente se viu encucado com a limpeza de cardápios de restaurantes. "Me dei conta que milhares de pessoas manuseiam os menus todos os dias. Eles não os lavam, certo? Agora tenho que viver com essa dúvida pelo resto da vida", brincou, para completar em seguida: "No início [em 2002], via o Monk como um "outsider" bizarro. Mas quanto mais penso nos problemas dele, mais normal ele me parece".
Normal, para ele, virou colecionar láureas nas principais premiações norte-americanas: sua estante tem três Emmys e um Globo de Ouro (que pode ganhar companhia amanhã à noite). Às vésperas da estréia da segunda parte do quinto ano de "Monk" nos EUA (ainda sem previsão de exibição no Brasil), o ator disse que o diferencial da série é o fato de os roteiros não se restringirem ao ambiente de trabalho, "levarem os personagens para casa".
"Isso permite desenvolvê-los e introduzir humor." O foco nas tramas pessoais, intensificado nas temporadas mais recentes, não é unanimidade. Em fóruns virtuais, alguns fãs reclamam que o segmento "criminal" anda capenga. No DVD do primeiro ano, a impressão é outra: apesar da estrutura um tanto repetitiva (Monk começa a investigar um crime; as fobias atormentam-no; ele soluciona o caso), os mistérios são bem amarrados, as resoluções, verossímeis, e as agruras de Monk, dolorosamente impagáveis.


MONK - 1ª TEMPORADA    
Criador:
Andy Breckman
Distribuidora: Universal (R$ 99,90)


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