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MÚSICA
Chega às livrarias dos EUA a autobiografia "The Good Life", escrita ao lado do crítico americano Will Friedwald
Tony Bennett celebra 50 anos de estrada
AMIR LABAKI
de Nova York
A lista de indicados ao Grammy
trouxe mais dois presentes para
Tony Bennett na comemoração de
50 anos de vida artística. Ele não
apenas recebeu mais uma indicação, para seu CD para crianças de
todas as idades "The Playground"
(leia ao lado), como viu também
escolhido, na categoria de melhor
álbum de cantor pop tradicional, o
CD em sua homenagem gravado
por Jack Jones ("Jack Jones Paints
a Tribute to Tony Bennett").
A festa parece não ter fim. Bennett foi o maior destaque dos festejos de Natal na Casa Branca. Também no mês passado, um especial
de TV de duas horas ao vivo celebrou a efeméride com depoimentos de Gregory Peck a Madonna.
Bennett, 72, aproveita a data para
lançar sua autobiografia, "The
Good Life" (A Boa Vida), escrita
com o crítico Will Friedwald.
São memórias de rara coragem e
transparência. Bennett viveu na
estrada, casou três vezes, teve quatro filhos, gravou mais de 70 álbuns, subiu, desceu e ascendeu novamente a partir dos anos 80.
Bennett não edulcora sua saga tipicamente americana. Escancara o
orgulho de ter aberto caminho
com sua própria voz a partir da
origem humilde numa família de
imigrantes italianos na Nova York
do início do século.
Mas Bennett não esconde os próprios podres. Reconhece ter sido
fundamental para seus primeiros
passos profissionais, no imediato
pós-Segunda Guerra, o apoio do
empresário Ray Muscarella -ligado ao "underground" (submundo), como o cantor prefere falar. O
encontro é o marco zero do meio
século de carreira agora festejado.
Bennett trata ainda de seu envolvimento com drogas, da maconha
fumada nas trincheiras à cocaína
que quase o liquidou nos turbinados anos 60. Seu depoimento sobre
a autodestruição de Bill Evans,
com quem gravou dois discos, é
uma pancada. Não menos contundente é sua visão do Exército.
Pouquíssimos artistas americanos que participaram da luta contra o nazismo depuseram com tamanha indignação frente à brutalidade da experiência militar, do
precário e cruel treinamento ao explícito "apartheid" que separava
soldados brancos e negros.
O choque da guerra liquidou as
dúvidas do jovem Anthony Dominick Benedetto. Ainda de farda,
findo o conflito, deu-se o pulo das
trincheiras para os palcos, como
coadjuvante da animação das tropas americanas na Europa.
Fim de 46, de volta a Nova York,
inicia-se um período essencial de
pouco mais de um ano de treinamento formal (American Theather
Wing, o futuro Actor's Studio) e
informal (nada menos que o maior
circuito de jazz do planeta).
A profissionalização veio com
Muscarella, mas o nome artístico
lhe foi ofertado por Bob Hope. O
mundo dava adeus ao "Joe Bari"
dos primeiros shows e do primeiro
compacto, totalmente artesanal
("Vieni Qui" de um lado, "Fascinating Rhythm" do outro), e abria os
braços para "o novo nome americanizado", Tony Bennett.
Parece simples a fórmula Bennett: uma voz potente e nuançada
mais um sólido acompanhamento
instrumental a serviço do "Great
American Songbook", o insuperável repertório de música popular
americana, de Gershwin a Porter.
A cada canção um novo clássico
inédito: "I Wanna Be Around",
"The Best Is Yet to Come", e, claro,
"I Left My Heart in San Francisco".
Bennett tem ao menos uma boa
história a contar sobre cada gigante do jazz. Uma delas lembra uma
"jam session" com João Gilberto.
Mas as melhores envolvem invariavelmente Frank Sinatra. Rei
morto, rei posto. Com Bennett, o
cetro está em boas mãos.
²
Livro: The Good Life
Autor: Tony Bennett e Will Friedwald
Lançamento: Pocket Books (importado)
Quanto: US$ 25 (312 págs.)
Onde encomendar: www.amazon.com
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