São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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MÚSICA
Chega às livrarias dos EUA a autobiografia "The Good Life", escrita ao lado do crítico americano Will Friedwald
Tony Bennett celebra 50 anos de estrada


AMIR LABAKI
de Nova York

A lista de indicados ao Grammy trouxe mais dois presentes para Tony Bennett na comemoração de 50 anos de vida artística. Ele não apenas recebeu mais uma indicação, para seu CD para crianças de todas as idades "The Playground" (leia ao lado), como viu também escolhido, na categoria de melhor álbum de cantor pop tradicional, o CD em sua homenagem gravado por Jack Jones ("Jack Jones Paints a Tribute to Tony Bennett").
A festa parece não ter fim. Bennett foi o maior destaque dos festejos de Natal na Casa Branca. Também no mês passado, um especial de TV de duas horas ao vivo celebrou a efeméride com depoimentos de Gregory Peck a Madonna.
Bennett, 72, aproveita a data para lançar sua autobiografia, "The Good Life" (A Boa Vida), escrita com o crítico Will Friedwald.
São memórias de rara coragem e transparência. Bennett viveu na estrada, casou três vezes, teve quatro filhos, gravou mais de 70 álbuns, subiu, desceu e ascendeu novamente a partir dos anos 80.
Bennett não edulcora sua saga tipicamente americana. Escancara o orgulho de ter aberto caminho com sua própria voz a partir da origem humilde numa família de imigrantes italianos na Nova York do início do século.
Mas Bennett não esconde os próprios podres. Reconhece ter sido fundamental para seus primeiros passos profissionais, no imediato pós-Segunda Guerra, o apoio do empresário Ray Muscarella -ligado ao "underground" (submundo), como o cantor prefere falar. O encontro é o marco zero do meio século de carreira agora festejado.
Bennett trata ainda de seu envolvimento com drogas, da maconha fumada nas trincheiras à cocaína que quase o liquidou nos turbinados anos 60. Seu depoimento sobre a autodestruição de Bill Evans, com quem gravou dois discos, é uma pancada. Não menos contundente é sua visão do Exército.
Pouquíssimos artistas americanos que participaram da luta contra o nazismo depuseram com tamanha indignação frente à brutalidade da experiência militar, do precário e cruel treinamento ao explícito "apartheid" que separava soldados brancos e negros.
O choque da guerra liquidou as dúvidas do jovem Anthony Dominick Benedetto. Ainda de farda, findo o conflito, deu-se o pulo das trincheiras para os palcos, como coadjuvante da animação das tropas americanas na Europa.
Fim de 46, de volta a Nova York, inicia-se um período essencial de pouco mais de um ano de treinamento formal (American Theather Wing, o futuro Actor's Studio) e informal (nada menos que o maior circuito de jazz do planeta).
A profissionalização veio com Muscarella, mas o nome artístico lhe foi ofertado por Bob Hope. O mundo dava adeus ao "Joe Bari" dos primeiros shows e do primeiro compacto, totalmente artesanal ("Vieni Qui" de um lado, "Fascinating Rhythm" do outro), e abria os braços para "o novo nome americanizado", Tony Bennett.
Parece simples a fórmula Bennett: uma voz potente e nuançada mais um sólido acompanhamento instrumental a serviço do "Great American Songbook", o insuperável repertório de música popular americana, de Gershwin a Porter.
A cada canção um novo clássico inédito: "I Wanna Be Around", "The Best Is Yet to Come", e, claro, "I Left My Heart in San Francisco".
Bennett tem ao menos uma boa história a contar sobre cada gigante do jazz. Uma delas lembra uma "jam session" com João Gilberto. Mas as melhores envolvem invariavelmente Frank Sinatra. Rei morto, rei posto. Com Bennett, o cetro está em boas mãos.
²
Livro: The Good Life Autor: Tony Bennett e Will Friedwald Lançamento: Pocket Books (importado) Quanto: US$ 25 (312 págs.) Onde encomendar: www.amazon.com



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