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'Kolya não é filme político', diz Sverak
ELAINE GUERINI
da Reportagem Local
Com a indicação de "Kolya -
Uma Lição de Amor" ao Oscar de
melhor filme estrangeiro, o diretor
tcheco Jan Sverak, 32, consegue
pela segunda vez colocar um de
seus trabalhos na corrida pelo prêmio -sua primeira produção a
concorrer foi "Lições de Infância", de 1991.
"Como atravessamos uma crise
em nossa indústria, isso significa
muito para nós", disse Sverak, em
entrevista por telefone à Folha, de
Praga. "Kolya", que estréia hoje
em São Paulo, já levou o Globo de
Ouro, uma espécie de prévia do
Oscar, na categoria.
Com roteiro de Zdenek Sverak,
pai do diretor e ator principal do
filme, "Kolya" aborda as transformações na vida de um violoncelista de meia-idade que se vê obrigado a tomar conta de um garoto
desconhecido.
Como a ação se passa um pouco
antes de os russos perderem o poder na antiga Tcheco-Eslováquia,
as transformações sociais e políticas no Leste Europeu servem de
pano de fundo para a história. Leia
a seguir trechos da entrevista.
Folha - A história de "Kolya" é
real?
Jan Sverak - O roteiro é baseado na vida de várias pessoas do
Leste Europeu. Muitas situações
que aparecem ali realmente aconteceram. Meu pai criou apenas o
protagonista da história, o músico
que, depois de ter sido despedido
da Orquestra Filarmônica de Praga, acaba tocando em funerais. O
que ele fez foi entrelaçar isso com
duas histórias reais: a de um homem que se casou com uma mulher por dinheiro e a de um garoto
russo que passou um ano vivendo
com um homem tcheco.
Folha - Você define "Kolya" como um filme político?
Sverak - Não. Tentei abordar o
mínimo de política possível. Mas,
em nosso território, a nossa vida
pessoal é influenciada pela vida
política. Isso faz parte do nosso
histórico. Nunca foi minha intenção fazer um filme desse gênero.
Procurei destacar as transformações na vida de homem egoísta que
evita responsabilidades e, de repente, precisa cuidar de uma
criança.
Folha - "Kolya" consegue ser
dramático sem cair no sentimentalismo. Qual o segredo?
Sverak - O humor. Essa é a especialidade do meu pai, ele tem
um tipo de humor que é comum
por aqui. Quando uma pessoa está
sob pressão, o único antídoto para
continuar vivendo é fazer piadas
sobre tudo. E meu pai sabe lidar
com isso muito bem.
Folha - Qual a importância do
Globo de Ouro e da indicação ao
Oscar para a República Tcheca?
Sverak - Significa muito para
nós, levando em conta que estamos atravessando uma crise no
país. Como o ingresso custa apenas US$ 1 e temos menos de 10 milhões de habitantes, fica difícil obter lucro. Mas "Kolya" é um
grande hit por aqui.
A reação do público em geral tem
sido surpreendente. Durante o
Sundance Film Festival, por exemplo, houve uma verdadeira ovação. Isso é comum em nosso país,
onde o público já me conhece e conhece o meu pai. Mas nós não esperávamos por nada parecido nos
EUA, especialmente por ser tratar
de um filme em língua estrangeira.
Parece que conseguimos ultrapassar a barreira da língua.
Folha - O reconhecimento de
Hollywood pode comprometer o
seu estilo de fazer cinema?
Sverak - Garanto que não. Minha grande preocupação é continuar sendo eu mesmo. Sempre
vou fazer filmes na Europa. Tenho
medo de perder minha autenticidade. A única coisa que vai mudar
é a língua. Filmo meu próximo trabalho em inglês. Só vou fazer isso
para que todos entendam a mensagem. Meu pai será novamente o
roteirista. O filme vai abordar amizade e traição.
Folha - Foi difícil encontrar um
garoto como Andrej Chalimon para o papel de Kolya?
Sverak - Demoramos cerca de
um ano para encontrá-lo. Tivemos
de procurar em Moscou, já que o
garoto tinha de falar russo. Acessamos agentes russos e pedimos para
que eles procurassem os meninos
mais bagunceiros das escolas, já
que eles costumam ser os de personalidade mais forte.
Folha - Como ele se comportou
durante as filmagens?
Sverak - Estava sempre de bom
humor. Só foi difícil fazer as cenas
em que ele aparece triste, principalmete as do início do filme,
quando ele e meu pai se encontram e não se gostam.
Filmar com crianças e animais é
geralmente mais difícil. Com atores adultos você filma várias vezes
para que eles fiquem cada vez melhores. Com criança é o contrário.
Elas se cansam e ficam irritadas de
fazer a mesma coisa várias vezes.
Temos que aproveitar a espontaneidade das primeiras tomadas.
Folha - Como é dirigir o próprio
pai?
Sverak - Nós nos damos muito
bem. Eu respeito o trabalho dele
como roteirista e ator e ele me respeita como diretor. Acho que existe mais colaboração no set quando
a família está unida.
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