São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 2001

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TEMPORADA

Catalão Miguel Adrover se destaca; Marc Jacobs é impecável
Circo da moda tem início em Nova York

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

Foi dada a largada na temporada internacional de lançamentos para o outono-inverno 2001, e o catalão Miguel Adrover é o destaque. Nova York é a primeira parada do circo da moda, com o evento Seventh on Sixth, que, agora com o patrocínio da Mercedez Benz, vira oficialmente Mercedez Benz Seventh on Sixth. Seventh on Sixth é o nome dado ao processo das confecções da Sétima Avenida ("seventh") migrando para as tendas armadas na Sexta Avenida ("sixth") durante a semana de moda, em Manhattan, nos jardins do Bryant Park.
Até sábado desfilaram as marcas masculinas, e o domingo abriu os desfiles femininos, na temporada que, como a brasileira, tem história de moda recente. Sua primeira edição aconteceu somente em 93, quando os americanos então se organizaram para elaborar um calendário.
Com cerca de cem desfiles e somente uns 20 merecendo atenção, a temporada nova-iorquina precisa, neste inverno, se consolidar.
Espetáculo para quem precisa. O rapper Sean Puffy Combs deu aula de marketing de moda no desfile de sua marca, a Sean John. Casamento mais que perfeito de moda e música, a grife existe desde 98, tem dois estilistas à frente e um stylist contratado -o conceituado Bill Mullen- para cuidar da imagem desse desfile.
Inspirado em ícones dos anos 60 (o fundamento black power, Jimmi Hendrix e Che Guevara, os dois últimos homenageados em regatas cobertas de paetês), a coleção trazia outros fundamentos da grife, os estonteantes casacos de pele (usados com dog tags de diamante) e os jeans, tudo usado com enormes coturnos pretos. O nome da coleção: revolucionário. Na trilha sonora, muito rap (estilo gangsta, é claro), disco e funk. Mesmo com extravagância fashion, o look da Sean John é marcadamente viril.
A outra estrela do primeiro final de semana fashion foi de fato Miguel Adrover. Antes alternativo e sem dinheiro, Adrover ganhou fama ao reaproveitar peças de marcas famosas como a Burberry e por apresentar ao mundo da moda o processo da customização e da reciclagem fashion. Agora, é uma celebridade que produz pelo grande grupo Pegasus Apparel. No último verão, detonou a tendência do militarismo.
Criativo como ele só, Adrover passou seis semanas no Egito e veio com um inverno cheio de cáftans, túnicas, turbantes, chaddars e todo o vocabulário de moda das mulheres muçulmanas. Inteligente, pontua tudo com blazers com calças e saias, numa silhueta alongada em tons de cinza, ocre e poucas estampas étnicas, gráficas. Lembra o cipriota Hussein Chalayan e até um pouco de Yves Saint Laurent, na silhueta da coleção saariana.
Marc Jacobs fez um desfile excepcional na noite de segunda. Simples, chic, elegante, contemporâneo, jovem e clássico. Ao entender perfeitamente sua consumidora norte-americana, o estilista da megagrife Louis Vuitton conseguiu combinar o poder financeiro do Uptown nova-iorquino com o lado cool do Downtown -onde ficam suas lojas.
Uma palheta de preto e bege, pincelado com verde-pistache e amarelo, serve de base para um exercício formal impecável, ao mesmo tempo comercial e criativo. No casting moderno e levemente andrógino, nenhuma modelo brasileira, um sinal a ser levado em conta. Com cabelo desfiado, bagunçado, olhos escuros e precisos, as meninas desfilaram vestidos de jérsei leves e fluidos, casacos de pele de coelho preto, saias plissadas em goergette de cintura alta (mas mantendo o volume baixo); spencers e mantôs de tweed preto com grandes botões, com a linha da cintura levantada. Falsas faixas, mangas e golas em efeito trompe-l'oeil emprestavam feminilidade aos looks.


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