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Trabalho evoca de dada à pop art
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Jac Leirner diz ter "cabeça de
pintora", algo que revela muito
sobre seu trabalho. Surgida na década de 80, a mesma que assistiu
ao surto do "prazer de pintar" do
neo-expressionismo, a artista,
formada em 1984 pela Faap, buscou suas referências não nestas
águas, mas na geração brasileira
anterior. Seus "mestres": Cildo
Meireles, Tunga, Waltércio Caldas, José Resende. Escultores.
Mas Jac acredita que a escolha
pela "pintura" é uma marca de
seu trabalho legada pelo espírito
de época, o mesmo que levou seus
pares às telas.
O raciocínio cromático, de fato,
está presente de maneira muito
evidente nas séries em que acumula peças gráficas (sacolas, envelopes, cédulas de dinheiro),
agrupadas por cor em escalas insuspeitas ou em séries monocromáticas. A pintora, aí, parece ganhar da vontade de escultora de
outros trabalhos. Uma resposta
de Jac Leirner sobre o assunto:
"Tenho dificuldade de lidar com
essas oposições". Um problema
mais complexo do que simplesmente a velha dicotomia chão x
parede.
A curadora Lígia Canongia endossa a tese pictórica: "Hoje muitas questões relativas à pintura estão sendo colocadas fora do suporte da pintura. É o caso. Se Oiticica virou a página da pintura no
Brasil, podemos dizer que Jac
Leirner continua esses questionamentos".
Numa série recente batizada
"Hip Hop" (98) e exibida em São
Paulo no ano passado, Jac Leirner
parece agravar essa relação: são fitas adesivas de várias cores e procedências, formando um desenho
linear sobre a parede. "Aparentemente é um procedimento plástico mais puro. Mas a contaminação continua no material", diz a
artista. "Essas fitas adesivas estão
em todo lugar."
A série ganhou esse nome devido ao diálogo que instaura com os
"Boogie Woogie", série do pintor
holandês Piet Mondrian, aqui renovados como "Hip Hop".
A história da arte é fonte primordial para Jac: seu trabalho
dialoga, simultaneamente, com a
pop art, o conceitualismo, o minimalismo e o dada. O construtivismo brasileiro foi ração diária, por
meio da coleção do pai, Adolpho
Leirner. Mais tarde, outro elemento importante foi a estética
punk. "Essa coisa tosca, trash
mesmo, foi muito importante na
minha formação."
Para dar conta da complexidade
de sua obra, a exposição "Ad Infinitum" se desdobra em uma publicação com mais de 150 reproduções de obras em 224 páginas.
O catálogo traz textos publicados nos últimos anos por críticos
das mais variadas extrações e escolas: Guy Brett, Lorenzo Mammì, Lisette Lagnado, Agnaldo Farias, entre outros.
A curadora Lígia Canongia assina um texto especialmente para o
livro, no qual tece comparações
entre as operações de deslocamento de objetos banais realizadas pela artista e os poemas do
francês Charles Baudelaire (1821-1867), que anunciam a idade moderna e a vida urbana. Assim como o poeta, Jac Leirner busca, na
modernidade, os sinais que servem de fonte para seu trabalho.
(RM)
AD INFINITUM. Mostra panorâmica da
artista paulistana Jac Leirner.
Curadoria:
Lígia Canongia.
Onde: Centro Cultural
Banco do Brasil, Rio de Janeiro (r. 1º de
Março, 66, 2º andar, centro, Rio, tel. 0/
xx/21/3808-2020).
Quando: abertura para convidados, dia 18; até 28 de abril;
de ter. a dom., das 12h30 às 19h30.
Quanto: entrada franca.
O jornalista Rodrigo Moura viajou a
convite da organização da mostra
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