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POLÍTICA CULTURAL
Seminário sobre a cultura brasileira reúne 76 personalidades
Evento pede regulação com liberdade
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em suas iniciativas reguladoras
para as áreas da comunicação e da
cultura, o governo e o Congresso
não devem atropelar a liberdade
de expressão.
Foi essa a percepção mais evidente entre as 76 personalidades
(artistas, produtores, acadêmicos,
publicitários, arquitetos, jornalistas etc) que participaram do
"Conteúdo Brasil - Seminário de
Valorização da Produção Cultural
Brasileira", realizado anteontem
no Teatro da Universidade Católica, o Tuca, em São Paulo.
"A liberdade de expressão foi
enfatizada sobretudo por artistas
e produtores culturais, mas todos
os participantes têm a compreensão de que as áreas não estão suficientemente reguladas", afirma o
coordenador-geral do evento, o
jornalista Gabriel Priolli, 50, diretor da TV PUC-SP.
O seminário durou nove horas.
Abriu com uma palestra do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. Na seqüência, os convidados foram divididos em cinco
grupos de discussão.
Pautas: o impacto da produção
estrangeira, as diversas formas de
expressão e interdependência,
qualidade na mídia, papel e limites do capital estrangeiro e impacto das novas tecnologias.
Cada grupo produziu uma síntese. O conteúdo dos debates e a
apresentação das conclusões foram gravados e serão transcritos
em documento a ser divulgado
em breve, conforme Priolli.
Na abertura, Suassuna, 76, deu
um show, quer dizer, uma aula-espetáculo. "Na minha terra,
"show" é uma interjeição para espantar galinha", afirma o filho de
Taperoá (PB) que vive em Recife
(PE), para quem "a independência
e a identidade da cultura brasileira estão ameaçadas".
Para o cineasta Zelito Viana, 65,
que mediou o grupo "As Diversas
Formas de Expressão Cultural e
Sua Interdependência", a influência estrangeira é uma introjeção
inevitável. "A gente não sabe mais
o nível da contaminação, por isso
precisamos valorizar cada vez
mais a cultura brasileira. Não
adianta ser contra a chegada do
rock", afirma Viana.
Antropofagia
Sobre o estrangeirismo na música, o sociólogo Hermano Vianna, 43, afirma encarar "com mais
naturalidade essas absorções, essa
antropofagia da cultura brasileira". Segundo ele, "a entrada da
polca no Brasil [música típica de
origem européia], por exemplo,
foi importantíssima para a definição do samba como o conhecemos hoje".
Queda de referências
O ator Marco Nanini, 55, integrante da mesa "A Questão da
Qualidade na Mídia e na Cultura",
ressalva importância de trazer o
"patrimônio cultural" para o centro da cena. Temo que um dia sejamos obrigados a importar até
programas de televisão, em vez
produzirmos os nossos", diz.
No mesmo grupo, o jornalista e
escritor Zuenir Ventura, 72, afirma que antigamente haviam os
cânones que orientavam as preferências e gostos. "A queda de referências, modelos e padrões não se
deu só no plano ideológico, mas
também no cultural, quando o
mercado passou a ser a medida de
todas as coisas; quantidade acabou virando qualidade. Esse é o
impasse", afirma.
O que leva Ventura à seguinte
equação: "Nem todo sucesso é
bom e nem tudo que é bom faz sucesso. E não se pode ser radicalmente contra o sucesso, por ser
sucesso, e achar que tudo que não
faz sucesso é bom".
O "Conteúdo Brasil" é uma promoção da Pontifícia Universidade
Católica (PUC-SP) e da Rede Globo de Televisão. Está previsto um
segundo encontro na metade do
ano.
"A expectativa é de que possamos dar o primeiro passo no sentido de repensar a produção nacional dentro dos novos desafios e
oportunidades apresentadas pelo
contexto e mercados atuais", avalia Priolli.
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