São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTRELINHAS

Honra ao mérito

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Saara chamado "cenário brasileiro dos prêmios literários" também tem os seus oásis e suas miragens.
Os dois principais deles, o mais tradicional e o de premiação mais bojuda, sacudiram de leve a poeira nesta semana. O veterano Jabuti fechou ontem as estatísticas de sua próxima edição com o maior número de inscritos da história. Estão na briga 2.374, 18% mais do que em 2003.
Já o opulento (para os padrões brasileiros) Portugal Telecom de Literatura Brasileira teve a primeira reunião de sua comissão artística anteontem e definiu algumas mudanças.
Se não cresceu a verba, de R$ 150 mil, aumentou o júri inicial -agora com 500 (!) integrantes na primeira fase-, o júri final (de sete para dez) e instalou-se um elástico nas categorias (agora valem também crônicas).
A mudança mais radical, proposta por Eduardo Correia de Mattos, presidente da Portugal Telecom no Brasil, não foi aceita. "Queria que os R$ 150 mil fossem para um só premiado. Mas a comissão vetou", diz.

EMPIRE STATES
As livrarias da terra de Bush Jr. batem bumbo em torno de um número nada discreto: US$ 16,2 bilhões. Foi este o faturamento delas em 2003, crescimento pequeno -mas não esperado- de 2,4% em relação ao ano anterior.

CINCO GATINHOS
Algumas das peças mais importantes da dramaturgia nacional vão ganhar suas primeiras edições individuais em abril. Disponíveis só como "teatro reunido", os textos de Nelson Rodrigues "Vestido de Noiva, "Viúva Porém Honesta", "Álbum de Família", "Senhora dos Afogados" e "Beijo no Asfalto" serão reeditados, um a um, pela Nova Fronteira.

ITAMARATY
A literatura brasileira ganhou embaixador ambulante no Reino Unido. O escritor João Gilberto Noll (que tem seu "Berkeley em Bellagio" relançado na semana que vem pela Francis) está correndo até 30 de abril um amplo circuito de universidades, incluindo Oxford, para falar sobre as letras do país de Machado.

DENTRO DA ESTANTE
Tema da seção "Fora da Estante" de semanas passadas, a obra literária de Salvador Dalí, esquecida das editoras brasileiras, está sendo resgatada. A Girafa lança ainda neste semestre dois títulos do catalão.

MATILHA DE HILDA
O escritor José Luiz Dutra de Toledo vem espalhando em tortos e direitos da internet o apelo por uma "campanha nacional" para adoção das dezenas de cães de Hilda Hilst. Adesões: jelidato@terra.com.br.

CHUCHUZINHO
O escritor e fotógrafo de fofurinhas australiano Bradley Trevor Greive é um dos primeiros gringos confirmados para a Bienal. Ele vem a São Paulo comemorar a vendagem de 1,5 milhão de livros no país, meiguices como "Um Dia Daqueles" (Sextante).

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Para muitos críticos de envergadura, "The Recognitions", de William Gaddis, é o grande monolito negro que inaugura o chamado pós-modernismo literário. O romance de 1955 seria nessa visão, "riocorrente", o elo perdido entre o modernismo de James Joyce & cia. e os invencionismos contemporâneos dos americanos Thomas Pynchon e Don DeLillo. Mas essa obra de estréia do romancista, nascido junto com "Ulisses" (1922) e morto há cinco anos, esbarra (se é que se pode dizer assim) justamente na sua grandeza. Com quase mil páginas, mais de 50 personagens e uma escrita que dialoga com estilos de dezenas de autores, de Aristóteles a T.S. Elliot, o livro sobre um falsificador de obras de arte (e todo o resto da obra de Gaddis) é inédito no Brasil.


Texto Anterior: Trechos
Próximo Texto: Inspiração nordestina: Patativa revela-se o Camões do semi-árido
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.