|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Exibido anteontem, "A Prairie Home Companion" foi bem recebido pela crítica
Filme de Altman critica Bush e sai como favorito em Berlim
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Uma saraivada de críticas à política de George W. Bush surgiu de
forma inesperada com o musical
country e aparentemente banal
"A Prairie Home Companion", de
Robert Altman, que teve estréia
mundial anteontem em Berlim. O
filme já se tornou o favorito ao
Urso de Ouro, segundo a crítica
alemã, encabeçando as listas dos
jornais locais.
"Acho que esse filme é subversivo porque ele trata de algo que, ultimamente, se perdeu nos Estados
Unidos, que é o senso de humanidade e o humor. Basicamente fomos criados sem fronteiras, por
alemães, irlandeses ou paquistaneses, somos tudo", disse a atriz
Meryl Streep, na capital alemã. Já
Altman foi ainda mais direto: "Eu
não acredito que nós vivamos
uma guerra nos EUA, mas sim
uma campanha de bombas".
"A Prairie Home Companion",
um programa de rádio transmitido ao vivo há 30 anos, aos sábados, basicamente com música
country, é o tema do novo filme
do octogenário Altman, como
sempre composto por uma rede
de personagens e, como sempre,
com um elenco estelar. Agora,
além de Streep, participam, entre
outros, Woody Harrelson, Kevin
Kline e Tommy Lee Jones. "Gosto
de trabalhar com muita gente,
pois, quanto mais gente para ajudar, melhor. E, se alguém falhar,
outros podem auxiliar", afirmou
o diretor, em Berlim.
O filme retrata uma imaginária
última transmissão do programa,
encerrado pois estaria fora de moda, pelo seu real apresentador,
Garrison Keillor, mostrando não
só o que ocorre no palco como
também nos bastidores. Entre as
surpresas da produção estão as
qualidades vocais de Streep e Harrelson, fortes candidatos ao Urso.
"Fico muito orgulhosa em representar dessa forma os Estados
Unidos, é um programa genuíno,
ingênuo, do tipo que crescemos
ouvindo", disse Streep, anteontem. A atriz, em seguida, contou
que vai encenar "Mãe Coragem",
de Bertolt Brecht, no Central
Park, em julho, "pois é a peça
mais antiguerra".
"A Prairie..." torna-se político
"porque todo filme é político,
mesmo que não fale de política",
disse Altman, famoso por outra
sátira política: "M*A*S*H*". Ainda segundo o diretor, "a arte reflete uma atitude, pois nós lidamos
com o que acontece ao nosso redor, mesmo que a gente não precise comentar diretamente isso".
Harrelson destacou a forma como setores de Hollywood tem
abordado a gestão Bush: "Há
muita gente falando em Hollywood, creio que o que George
Clooney fez com "Syriana" e "Boa
Noite e Boa Sorte" é muito corajoso, e ele merece ganhar não só um
mas vários Oscars por isso".
Vida dura
Enquanto o domingo foi marcado pela leveza de Altman, ontem o
Festival de Berlim apresentou histórias de personagens em desespero. "El Custódio", do argentino
Rodrigo Moreno, única produção
latino-americana na mostra competitiva, trata do cotidiano do segurança de um ministro do Planejamento, um homem-sombra,
sem vida própria.
Rubén, interpretado por Julio
Chavez, é visto sempre esperando
pelo chefe, e até mesmo, sendo
desprezado por ele, em uma cortante crítica ao abismo entre camadas sociais na América Latina.
Já o alemão "Der Freie Wille" (livre-arbítrio), conta a história de
Theo (Jürgen Vogel), um homem
que sai da prisão após ter cumprido pena por cometer vários estupros. Sua dificuldade em retornar
ao estado normal da vida torna-se
um pesadelo, mesmo conseguindo relacionar-se com uma jovem,
que por ele se apaixona. Em ambos os filmes, livre-arbítrio é uma
ilusão.
FABIO CYPRIANO viajou a
convite do evento
Texto Anterior: Erudito/Crítica: Excelência marca orquestra jovem de Campos do Jordão Próximo Texto: Música: Livro reúne as partituras de Jacob Índice
|