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TINHORÃO
Preconceitos cercam autor e sua obra
da Reportagem Local
Os anos 90 são mesmo incríveis.
O processo cultural e o político se
dissociaram tanto que permitem a
retomada de valores tão díspares
quanto as músicas mofas de Geraldo Vandré e Wilson Simonal ou
os estudos heterodoxos -de tão
ortodoxos em suas raízes marxistas e nacionalistas- de Tinhorão.
A ideologia a que ele se filia luta
contra os vermes, e nem se pode
dizer que suas posturas puristas
não sejam fundadas no preconceito. "Música Popular - Um Tema
em Debate", revisto e ampliado, é
algo ampliado, nada revisto.
Ora, mas não é coerente tal teimosia? O que restaria de Tinhorão
se renunciasse a suas teses (nunca
indefensáveis)? Nada, talvez, ou
então um produto tão amorfo
quanto o que restou de tantos que
renunciaram a tudo que puderam.
Mas, se o visor nacionalista de
Tinhorão é preconceituoso, não
seria a rejeição a ele outra modalidade de preconceito? Não haveria
o estabelecimento de uma visão
única, unívoca de música popular
causado o soterramento de homens algo mais polêmicos?
Hoje parece pecado um Tinhorão dizer que não gosta de bossa
nova -mas só porque é obrigatório gostar de bossa, de tropicalismo... Talvez uns não gostem, e talvez isso seja natural numa cultura
diversificada ("globalizada"?).
A porca torce o rabo: o chauvinista padece do chauvinismo dos
não-chauvinistas. E o Brasil patina, deixando passar por banais
contribuições como as de Tinhorão e as de seus inimigos.
(PAS)
Livro: Música Popular - Um Tema em
Debate
Autor: José Ramos Tinhorão
Lançamento: Editora 34
Quanto: R$ 19 (188 págs.)
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