São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 1998

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Ele segundo críticos

da Reportagem Local

Leia abaixo depoimentos de pesquisadores, estudiosos e críticos musicais sobre o trabalho e a importância de José Ramos Tinhorão.
Jairo Severiano - "Sou meio suspeito, porque sou fã dele, embora não concorde com tudo que ele escreve. Acho importantíssimo que esses títulos sejam reeditados, assim como toda a obra dele, que em geral está esgotada. Só não concordo com ele num certo excesso de radicalismo de opiniões, de não admitir determinadas linhas harmônicas usadas por achar que não são brasileiras.
"É difícil para a cultura popular do Brasil ou de qualquer país se manter isolada, é impraticável e até certo ponto condenável."
Zuza Homem de Mello - "É um grande historiador da MPB, mas como crítico é muito voltado para o lado sociológico da música, o que conduz a erros crassos em termos de crítica. A falta de conhecimento musical dele e essa tendência a levar para o lado sociológico produzem alguns termos negativos em sua crítica. Dizer, por exemplo, que 'Samba de Uma Nota Só' é plágio da introdução de 'Night and Day' é um erro crasso, harmonicamente não tem nada a ver."
Ruy Castro - "Sou grande fã do Tinhorão. É um pesquisador sério, mergulha na documentação, desencava papéis perdidos há 400 anos. Não sou obrigado a concordar com as opiniões dele, mas aprendo muito com ele. Seria importantíssimo que o Brasil tivesse mais dez ou 20 tinhorões.
"Ele atacou ferozmente a bossa nova, é um direito dele. E não foi só ele, muitos eram contra o movimento: Lúcio Rangel, Sérgio Porto, Antonio Maria, Hermínio Bello de Carvalho, Sérgio Cabral. Uns morreram antes de mudar de idéia, outros -Hermínio, Sérgio- viram que a bossa não era uma ameaça ao samba. Já Tinhorão é um homem de opiniões muito arraigadas.
Hermínio Bello de Carvalho - "É como aquela relação de amor de ódio, mas ódio jamais -é de amor e respeito, misturada com um pouco de insatisfação. Tinhorão não pode deixar de ser incluído numa lista dos pesquisadores sérios do país, mas provoca uma série de controvérsias. Minha discordância é quanto à abordagem de alguns assuntos, tenho sempre feito ressalvas. Mas tenho que respeitar nele o grande talento de um cara que não mente, que é radical, mas sincero. Ele nos faz refletir em momentos em que a mediocridade é tanta que respinga na vida da gente, faz até pensar se ele não está certo, dá até vontade de ficar tão radical quanto ele."
Hermano Vianna - "Admiro muito o trabalho dele. Acho que é um dos mais interessantes e profundos sobre história da MPB. Ele tem uma opinião muito clara sobre as coisas -que todo mundo conhece-, e é importante dialogar com ela. qualquer coisa que se for pensar sobre isso, a opinião de Tinhorão terá de ser levada em conta, nem que seja como um superego nacionalista e provocante.
"Eu lia Tinhorão quando adolescente, tenho muitos artigos recortados, que volto a ler sempre. É muito rígido, às vezes não leva em consideração outras opiniões. Mas marca posição, e é importante que as pessoas tenham posturas fortes. Hoje tudo anda amorfo, sem muita opinião. Acho que há uma carência desse tipo de postura, principalmente se ela não é de polêmica pela polêmica."



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