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Luft fala sobre amor
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
A escritora e tradutora Lya
Luft, 60, segue a linha da mistura
de prosa de ficção com poesia e
depoimento neste "Secreta Mirada".
Seu livro anterior, "O Rio do
Meio", percorreu caminho parecido, centrado na prosa-depoimento -ou, como ela mesma
define, em "uma conversa ao pé
do ouvido do leitor", seja lá o
que isso queira dizer.
Como o tema de "Secreta Mirada" é o amor, pode-se afirmar
que a autora resolveu fazer seu
"fragmentos de um discurso
amoroso" -para citar a manjada obra de Roland Barthes.
Trata-se de um livro de fragmentos mesmo, restos de coisas
não utilizadas em outras obras
suas, como a autora admite.
"Alguns poemas são antigos,
outros atuais, alguns podem ter
sido escritos por personagens
meus, e como não couberam no
romance arranjei-lhes um lugar
aqui."
Sobre a parte em poesia, ela
também explica: "Quando ia escrever prosa às vezes nasciam-me poemas, e por mais que
eu quisesse fazê-los desaparecer
eles insistiam em insinuar-se entre os textos em prosa. Resolvi
então dar-lhes direito à vida, e
compor um livro com essas mesmas alternâncias".
Os textos são sempre apresentados em grupos de dois, uma
prosa e uma poesia aparentemente afins, e introduzidos por
um número excessivo de epígrafes de autores diversos como Rilke, Cecília Meireles, Mário
Quintana e Fernando Pessoa.
Difícil compreender, entretanto, qual o objetivo de tantas repartições de forma e de formato.
Tudo nesse livro soa meio sem
propósito: não há idéia de conjunto, a poesia não tem qualquer
arrojo formal, a prosa repousa
na indefinição entre ficção e tom
filosófico, sem nenhuma profundidade.
O tratamento dado ao tema
central -o amor e seus entornos, os filhos, a casa, a amizade,
a morte etc.-, além do inevitável subtema do "escrever", não
ultrapassa, tanto na prosa quanto na poesia, o estágio da obviedade.
É o que se vê, por exemplo, nos
versos deste "Canção em Outras
Palavras": "O melhor cuidado
com o amor/é deixar que floresça,/pois amor não se cultiva: é
flor/selvagem, bela por ser livre".
Ou neste trecho em prosa:
"Perdição de amor é tão dramático quanto delicioso. Parece que
nossa personalidade muda, nossos desejos vacilam, ficamos
atordoados e entregues, pequenos e fracos -e achamos isso
lindo. Não nos importam mais
tanto os passados projetos e decisões, ousamos tudo (...) porque saímos do nosso estado natural e nos apaixonamos".
Lya Luft, também autora de
"O Lado Fatal" (poemas) e "A
Asa Esquerda do Anjo" (romance) parece ter feito este "Secreta
Mirada" (cujo título também soa
despropositado) para fugir do
"lado sombrio" da vida, a tônica
de sua obra.
"Digamos que é um romance
em que o personagem central já
não é a morte nem os conflitos
humanos mais sombrios, mas o
sentimento amoroso, ambíguo,
surpreendente, iluminador e
tantas vezes torturante", ela explica.
Livro: Secreta Mirada
Autora: Lya Luft
Lançamento: Mandarim
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