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Antes do inferno, Artaud encarnou Marat
especial para a Folha
Os olhos revirados de Antonin Artaud interpretando Marat em "Napoleão" são uma pálida amostra, quase uma caricatura, da radicalidade catártica que esse ator, dramaturgo, teatrólogo, desenhista, escritor e poeta representou para as artes no século 20.
Artaud (1896-1948) rompeu com os surrealistas no final dos anos 20 -e com todas as convenções estéticas-, levando sua experiência literária aos infernos da sua própria esquizofrenia.
Admirador das tradições do teatro oriental, além de fascinado pelas possibilidades libertárias dos rituais místicos e mágicos, Artaud primeiro teorizou uma saída para as artes, para fora das convenções da cultura, numa ligação mais íntima com a vida, para depois embarcar com o próprio corpo numa experiência sem volta da loucura. Sua interpretação de Marat no filme de Abel Gance é anterior aos seus textos mais violentos e também à radicalização desse processo esquizofrênico. E não teria sido possível de outra forma.
(BC)
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