São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 1998

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Arte e básico esvaziam impacto das passarelas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O artista plástico Cabelo em sua performance no desfile da M.Officer


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

JACKSON ARAUJO
free-lance para a Folha

Os dois desfiles de anteontem do MorumbiFashion Brasil apontam outra encruzilhada nas formas de apresentação de coleções, no evento que segue apresentando a moda para o inverno até o dia 16 no prédio da Fundação Bienal, no parque do Ibirapuera, zona sudoeste de São Paulo.
Dá sinais de esgotamento a fórmula instalada pela M.Officer de unir arte/música e moda -ao menos para desfile, ao menos para seu público. A performance do artista plástico Cabelo não foi bem assimilada e o percussionista Naná Vasconcellos saiu de cena sem conseguir empatia com o público.
Cabelo entrou levando uma modelo num carrinho de mão. Na passarela, rasga sua roupa e abre a barriga falsa, de onde cai areia. Ele mete a mão dentro do ventre artificial e de lá tira colares e um casaco, vestido pela modelo. A cena se repete durante o desfile. No fim, Cabelo sai da passarela sem aplausos.
O momento mais delicado veio a seguir, quando Naná Vasconcellos caminhou pela passarela, conclamando as pessoas a cantar com ele. Novamente ninguém reagiu.
Deveriam ter avisado que, no Planeta Fashion, as pessoas gostam de manter atitude cool e impassível -a tal "camisinha existencial", talvez, a que o próprio Cabelo já se referiu.
Certamente não está nos artistas a deficiência: ambos respeitados pela crítica e com respaldo internacional; ou talvez o estranhamento seja mesmo intencional.

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Modelo durante desfile da marca M.Officer



Outro problema é que as deficiências normais de toda coleção vêm à tona num desfile longo. Assim, perdem-se o bom trabalho de materiais do começo da apresentação, nos plissados e elegantes vestidos drapeados. Desnecessários também os laminados e a saia longa de fenda tipo cortina. Sem falar no biquíni. Não é inverno?
O jeanswear da Forum caiu numa armadilha criada pela própria marca. Separou o fashion do básico e fez um desfile chocho. Correto, mas asséptico.
Apenas o minimalismo clean de estilo Calvin Klein e Helmut Lang em combinações usáveis e comerciais esvazia o impacto, em termos de apresentação.
Como fio condutor do inverno da Forum, a referência de "corpo" também presente no segmento fashion, em torniquetes, aventais e estampas siliconadas de band-aid. De resto, o básico bem feito de sempre, junto a calças de proporções acertadas e casacos de lã com ombros demais.
O final traz o melhor look: o jeans escuro oversized com moderna regata preta.



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