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Decadentismo é alternativa possível
MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
No inverno há a materialidade
do fim. "As flores decaem, as folhas decaem e as florestas tombam", diziam os românticos ingleses no final do século 19. Mas
agora, nos lembram o estilista Lino Villaventura, que desfila hoje
às 20h30, e a Zapping (na última
quarta), que, além da vegetação,
também um século desaparece
com as estações.
A idéia é resgatar para estes anos
90 as cores, as formas e, de certa
maneira, a desesperança que tomou a Europa há cem anos, assim
que a comunidade artística e intelectual passou a usar uma sensação -o espírito de "fim-de-século"- da mesma maneira que uma
roupa.
O escritor Oscar Wilde
(1854-1900) é o ícone preferencial
e, claro, a referência maior. Mas
Wilde foi apenas um dos mais nobres representantes de uma idéia
nascida na Inglaterra em 1850.
Decadentismo
Com o fantasma da falência do
império britânico -e a nobreza
local mergulhando na morte por
morfina- a alternativa possível
para todo candidato a dândi ou esteta era o "decadentismo".
Havia então o charme acompanhando o desejo de impor um outro padrão para mundo. Na verdade, outro mundo, já que o velho
entrava em um colapso irreversível.
Da França se anunciava que o
comportamento deveria mudar,
assim como a forma do poema. As
pessoas passaram a adotar a melancolia da mesma maneira que
um perfume, pois tudo estava
adoecendo mortalmente. Do modelo de política ao estilo de vida.
E Charles Baudelaire, apresentando seus versos de "As Flores
do Mal", se deixava fotografar vestindo preto. Um signo da moda
que jamais nos abandonaria.
Não há então nada mais atrativo
-na literatura e na existência-
do que um jovem (quase sempre
nobre), que acredita ser a arte um
modelo para a vida. Nunca, como
se acreditava desde a antiguidade,
o inverso.
Artificialidade
O grande viva, por consequência, é dado para a artificialidade.
Tudo o que não é "natural" passa
a valer mais. A tonalidade dos panos se transforma, e a grande moda são os cravos pintados de verde
pelos alfaiates, ansiosos por oferecer algo "novo, inusitado e belo"
para os jovens decadentistas.
Afinal o século está no fim e tudo
deve mudar rapidamente. Alucinadamente. Nem que seja pela
dor. Os ecos do romantismo.
Mas não se trata apenas de estética, e sim de moral. Duas concepções que são -e é isso o que tentaram demonstrar- uma só coisa.
Para afrontar essa sociedade que
morre é necessário fazer prevalecer o belo, derrubar as leis. Um
exemplo, o homossexualismo.
Tão sussurrado entre os britânicos
e que terminou por transformar
Wilde em um mártir.
O que estava por trás de todos os
discursos, poemas e atitudes era
uma crença comum: a de que talvez "o pensamento e a paixão estivessem se libertando da tradição", nas palavras do poeta irlandês W.B. Yeats.
E de que maneira uma roupa representa esse cenário? De todas as
formas, pois Oscar Wilde sempre
avisou que se alguém fosse incapaz de produzir uma obra de arte,
deveria ao menos usar uma.
Villaventura e Zapping, de forma involuntária, se apropriam, no
final deste século, de uma convicção muito comum para os estetas
decadentistas do século passado: a
certeza de que para o homem,
mergulhado na cultura, não importa o quanto ele se dispa. Jamais
conseguirá estar plenamente nu.
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