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MUNDO POP CONTRA A GUERRA
Mobilização musical contra conflito remonta a anos 60
JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES"
Sheryl Crow não disse uma
palavra sobre sua opinião
quanto à guerra contra o Iraque
quando teve seu momento no horário nobre durante a entrega dos
prêmios Grammy, tocando com
Kid Rock, duas semanas atrás.
Seus adereços falavam por ela, do
grande sinal da paz que trazia ao
pescoço à correia de guitarra onde se lia "nada de guerra". Foi um
raro vislumbre, na mídia de massa, de algo que as pessoas que viveram nos anos 60 há muito vinham esperando: que a música
tomasse posição contra a guerra.
Não temos guerra ainda, apenas
ameaças e preparativos. Mas os
cantores de protesto, como generais, revisitam as batalhas do passado, à procura de paralelos. Muitos deles estão pensando no Vietnã; em 1º de março, em Nova
York, Pete Seeger e membros do
Sonic Youth tocaram juntos em
um show que usava como repertório o "The Vietnam Songbook",
publicado em 1969. Eles e outros
compositores que denunciam a
guerra com o Iraque estão tentando acelerar a reação artística e política que demorou anos, não meses, a ganhar ímpeto nos anos 60.
E eles querem abortar uma guerra, não se sublevar contra ela.
Será que uma canção de protesto já fez com que alguém mudasse
de idéia? É impossível dizer. "Give
Peace a Chance", de John Lennon,
fez com que algumas pessoas
pensassem duas vezes. Mas as
canções de protesto genuínas,
aquelas que tomam partido, em
geral atingem pessoas que já concordam com as idéias que elas
propõem. Sua função é mais oferecer slogans para servir como lemas de união entre os convertidos
e convencê-los de que não estão
sozinhos.
As novas canções de oposição à
guerra estão virtualmente ausentes das rádios comerciais, onde
boa parte dos programadores
nem sequer sonharia em dividir
ou alienar seus ouvintes. Em lugar
disso, as canções surgem de várias
fontes marginais no circuito do
rock indie das universidades, na
ala ativista do hip hop e entre os
herdeiros dos cantores de protesto folk dos anos 60. Mas alguns astros que vendem milhões de discos começam a se unir ao grupo.
John Mellencamp gravou uma
canção contra a guerra, "From
Washington", para seu próximo
álbum. "Não creio que haja muita
chance de ouvir essa canção no
rádio", disse ele.
Outros músicos estão regravando canções do passado. George
Michael lançou uma versão da
sombria história de guerra "The
Grave", de Don McLean, para um
vídeo exibido pela MTV Europa.
Menos de duas semanas atrás,
uma coalizão de músicos tão dispares quanto Jay-Z, Dave Matthews, Fugazi, Lou Reed e Missy
Elliott se formou sob o nome Musicians United to Win Without
War (www.moveon.org), mas
ainda não lançaram novas canções sobre o tema.
Poucos músicos de rock esperam que as canções contra a guerra recebam grande exposição nas
rádios, que estão largamente consolidadas em duas redes nacionais, a Clear Channel e a Infinity.
Mas é improvável que isso impeça
os compositores de gravá-las. "Se
as pessoas estão preocupadas
com perder audiência, não vão
conseguir mantê-la por muito
tempo, de qualquer jeito", diz
Mellencamp. "Elas não ficam no
estúdio imaginando se ofenderão
alguém. E se o fazem, deveriam
ser programadores de rádio."
Mas o magnata do hip hop Russell Simmons alega que as estações de rádio não rejeitariam automaticamente um hip hop antiguerra que tivesse perspectivas
comerciais. "Não acredito que
exista uma mídia que controle o
hip hop", disse. "Quando colocamos um disco de rap na rua, ninguém, George Bush nenhum, pode detê-lo, se fizer sucesso. Não
precisamos de ninguém, jamais
precisamos de ninguém para divulgar nossa mensagem."
Mas até agora não surgiu nenhuma canção contra a guerra
que obtivesse sucesso tão impossível de deter. Em relação ao Vietnã, os preparativos contra o Iraque vêm sendo mais curtos.
Uma coisa é mais certa: uma
guerra, comparada à sua perspectiva, rapidamente geraria mais
canções de protesto. "Os amigos
deles vão morrer", diz Simmons.
"Eles escreverão essas canções."
Tradução de Paulo Migliacci
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