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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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Guitarrista do Suede fala sobre nova fase após Brett Anderson abandonar as drogas

Síndrome de abstinência

Divulgação
O vocalista Brett Anderson, que lança aqui 'A New Morning'


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

O atual estado de ânimos do grupo britânico Suede reflete não apenas o que uma década de excessos no rock pode causar. É, antes de mais nada, o espelho do britpop, já que foram eles próprios os detonadores do incensado "movimento" musical inglês dos anos 90, ao menos no aspecto do culto à imagem.
"A New Morning", o novo álbum do Suede, marca uma fase livre de drogas -crack- de seu vocalista, Brett Anderson, 35. Os tempos de marginália, referência básica que fez a fama da banda, parecem ter chegado ao fim. O ápice da dependência de Brett aconteceu no álbum anterior, "Head Music" (1999), confuso musicalmente e de clima pesado. O glamour da estética junkie e decadente dão lugar a um Brett apaixonado, nas letras, pelo amanhecer, pela chuva e pássaros.
"Estamos mais otimistas, após um período de tumultos internos", diz o guitarrista Richard Oakes, 26. "Basta prestar atenção nas letras para reparar que Brett atravessou uma fase difícil e exorcizou seus demônios."
Estão longes, portanto, os dias de badalação, em que o semanário inglês "NME" elegeu o Suede a revelação de 1992 quando ainda nem tinham singles lançados.
Oakes, com 17 anos em 96, entraria na banda para substituir Bernard Butler, o então cérebro musical do Suede. "O grupo era mais conceitual, mais imagem. Foi isso que a imprensa notou e era isso que precisávamos para conquistar fãs."
E do que a banda precisa agora? "Estamos mais interessados em um som instintivo, mais básico. Hoje, somos mais música, menos pompa e glamour", explica.
A mesma "NME" que incensou o Suede foi quem primeiro criticou a nova fase. Acompanha a crítica o fato de que o britpop, em 2003, está praticamente em pedaços: o The Verve e o Pulp, inativos; o Oasis enfrenta a estagnação das bandas gigantes que não têm mais para onde crescer; e o Blur reformula sua sonoridade.
"A mídia inglesa têm que atender a um público na faixa dos 14/ 15 anos que não está nos seguindo, afinal estamos na ativa há dez anos e não somos o New Kids on the Bloch", afirma Oakes. "Entendo que a mídia, hoje, não considere o Suede a melhor banda do mundo. Ela tem que procurar as coisas novas do mercado."
As conturbadas gravações de "New Morning" causaram duas baixas -o tecladista Neil Codling, por estafa, e o produtor Tony Hoffer (Beck, Air), por divergências musicais- e a entrada do ex-Strangelove Alex Lee (guitarra e teclado). É também neste disco que o Suede encontra o produtor de uma de suas fontes de inspiração, o épico vegetariano "Meat Is Murder" (1985), do The Smiths. "Amamos esse disco. Stephen Street sabe como a música britânica funciona."
Se "New Morning" foi apontado como sinal de cansaço criativo, o próximo passo do Suede vai despertar ainda mais chiadeira: no fim do ano sai uma coletânea. O ponto positivo é que, segundo Oakes, a turnê de divulgação tem passagem quase certa pela América do Sul com grandes chances de incluir o Brasil no caminho.


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