UOL


São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

FESTIVAL DE MAR DEL PLATA

Deepa Mehta deixa "seriedade" após trilogia

Cineasta justapõe facetas comerciais de EUA e Índia

DA ENVIADA A MAR DEL PLATA

A indiana Deepa Mehta, 52, é das cineastas que conhecem o peso de um tema-tabu. Ameaçada de morte e protegida por guarda-costas, ela suspendeu as filmagens na Índia do longa-metragem "Water", há dois anos, e fez o caminho de volta ao Canadá, país onde se radicou nos anos 80.
"Water" é o terceiro título da trilogia da diretora sobre a natureza -iniciada por "Earth" e seguida por "Fire", que já havia provocado protestos na Índia por sua sugestão de lesbianismo. No caso de "Water", foi a temática do abuso sexual contra mulheres que desencadeou protestos às filmagens e ameaças à vida de Mehta.
De volta ao Canadá, a cineasta dirigiu "Bollywood, Hollywood", uma comédia musical -a primeira em sua carreira de "filmes seríssimos", como ela mesma classifica a trilogia. Longa de dupla nacionalidade, assim como sua autora, "Bollywood, Hollywood" está sendo apresentado na seção paralela do Festival de Mar del Plata, em que Mehta atua como jurada da competição oficial.
"Na verdade, "Bollywood, Hollywood" trata do mesmo tema de meus outros filmes: o peso da tradição e como a expectativa da sociedade pode nos impor comportamentos. Agora, abordo em tom de comédia, não de drama."
O lado "Hollywood" do longa reproduz a trajetória da personagem de Julia Roberts em "Uma Linda Mulher" -prostituta conquista milionário (Richard Gere) por suas qualidades humanas muito mais que as físicas. Bollywood (denominação da indústria cinematográfica indiana -o B é referência a Bombaim) comparece com seus típicos números musicais e quiproquós familiares.
O resumo da história: viúva, a matriarca de uma rica família indiana instalada no Canadá impõe a condição de que o primogênito encontre uma noiva (também indiana) para autorizar o casamento da irmã mais nova. Disposto a ajudar a irmã, mas desinteressado no casamento, o rapaz contrata uma garota de programa para fingir ser a nora ideal.
"O mundo está se transformando num lugar muito pequeno. Achei que seria interessante colocar um filme tipicamente comercial norte-americano em justaposição à linguagem de um filme tipicamente comercial indiano."
Além de fazer piada com os dois estilos de cinema, "Bollywood, Hollywood" tem referências à hipótese de filmes influenciarem comportamentos sociais. "Acho que o cinema só pode mudar as coisas muito superficialmente. Mas toda mudança deve começar de algum ponto", diz a cineasta. Insistindo com sua teoria na prática, Mehta voltará à Índia em setembro para finalizar as filmagens de "Water". (SILVANA ARANTES)


A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do festival


Texto Anterior: Personagem tem insônia e depressão
Próximo Texto: "Buena onda" argentina revela novo diretor
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.