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MÚSICA
Jards Macalé comemora seus 60 anos e reivindica reforma na bandeira brasileira
Amor
ordem & progresso
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Já que o lema da bandeira brasileira é positivista mesmo, o cantor
e compositor carioca Jards Macalé reivindica a restauração do
amor, elemento que foi extirpado
da equação no lema "ordem e
progresso" da bandeira brasileira.
"Amor, Ordem e Progresso" será o título do disco que ele já começou a gravar em São Paulo, enquanto apresenta, hoje e amanhã,
shows comemorativos de seus recém-completados 60 anos.
Não faltará no disco nem nos
shows o antigo samba "Positivismo" (1933), em que Noel Rosa e
Orestes Barbosa tratavam com
ironia do lema recolhido de Augusto Comte para a bandeira nacional: "O amor vem por princípio, a ordem por base/ o progresso é que deve vir por fim/ desprezaste esta lei de Augusto Comte/ e
foste ser feliz longe de mim".
"Vou fazer uma grande campanha para colocar o amor de volta
na bandeira brasileira. Seria a única bandeira do mundo a conter a
palavra amor, mudaria o psiquismo de todo o país", defende Macalé, mais a sério que de brincadeira. "Eu jurei essa bandeira, como símbolo ela é barra-pesada."
O músico, ex-tropicalista de primeira hora, diz não se importar
com o anacronismo das idéias de
Comte no século 21: "No fundo, o
positivismo continua o mesmo
no Brasil, até hoje".
Classificando-se como um "otimista pessimista" e um "pessimista otimista", Macalé apelidou
de "Dos 60 aos 60" o show comemorativo em que traçará um panorama de sua produção musical
desde os militantes anos pré-tropicalistas de antes de 1968.
Do alto do posto de ter organizado no duro 1974 o logo em seguida censuradíssimo show
"Banquete dos Mendigos", de reivindicação de restauração dos direitos humanos, Macalé opina sobre o Brasil "positivista" de 2003.
"Apesar dessa extrema violência internalizada, o Brasil hoje está mais aberto, mais exposto.
Existe aqui uma liberdade interna
que não existe no mundo neste
momento", diz, contando que começa o show com um vídeo de
imagens de passeatas e confrontos de rua dos anos 60. "Aquelas
idéias da nossa juventude estão
amadurecidas, há um salto qualitativo de lá para cá", completa.
Ex-parceiro tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Macalé
se afastou deles a partir de 1972,
mesmo ano em que lançou seu
primeiro álbum e começou a se
consumar como um "maldito" da
MPB. Ele é evasivo quanto à escolha e ao desempenho de Gilberto
Gil no Ministério da Cultura.
"Não achei nada num primeiro
momento, quando ele foi escolhido. Foi uma cartada interessante
do Lula. Gil está começando, espero que tenha consciência e faça
uma boa gestão."
A propósito, os shows de voz e
violão de hoje e amanhã terão
participação especial de sua amiga (e irmã de Chico Buarque),
Ana de Hollanda, nomeada há
pouco por Gil coordenadora de
música da Funarte. "A Funarte
precisa ser reconstruída, espero
que ela consiga ajudar", diz o sessentão Macalé.
DOS 60 AOS 60 - Show comemorativo
dos 60 anos de Jards Macalé. Onde: Sala
Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 3268-1776). Quando: hoje e amanhã, às
19h30. Quanto: entrada gratuita (retirar
os convites com 90 minutos de
antecedência).
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