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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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MÚSICA

Jards Macalé comemora seus 60 anos e reivindica reforma na bandeira brasileira

Amor
ordem & progresso

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Já que o lema da bandeira brasileira é positivista mesmo, o cantor e compositor carioca Jards Macalé reivindica a restauração do amor, elemento que foi extirpado da equação no lema "ordem e progresso" da bandeira brasileira.
"Amor, Ordem e Progresso" será o título do disco que ele já começou a gravar em São Paulo, enquanto apresenta, hoje e amanhã, shows comemorativos de seus recém-completados 60 anos.
Não faltará no disco nem nos shows o antigo samba "Positivismo" (1933), em que Noel Rosa e Orestes Barbosa tratavam com ironia do lema recolhido de Augusto Comte para a bandeira nacional: "O amor vem por princípio, a ordem por base/ o progresso é que deve vir por fim/ desprezaste esta lei de Augusto Comte/ e foste ser feliz longe de mim".
"Vou fazer uma grande campanha para colocar o amor de volta na bandeira brasileira. Seria a única bandeira do mundo a conter a palavra amor, mudaria o psiquismo de todo o país", defende Macalé, mais a sério que de brincadeira. "Eu jurei essa bandeira, como símbolo ela é barra-pesada."
O músico, ex-tropicalista de primeira hora, diz não se importar com o anacronismo das idéias de Comte no século 21: "No fundo, o positivismo continua o mesmo no Brasil, até hoje".
Classificando-se como um "otimista pessimista" e um "pessimista otimista", Macalé apelidou de "Dos 60 aos 60" o show comemorativo em que traçará um panorama de sua produção musical desde os militantes anos pré-tropicalistas de antes de 1968.
Do alto do posto de ter organizado no duro 1974 o logo em seguida censuradíssimo show "Banquete dos Mendigos", de reivindicação de restauração dos direitos humanos, Macalé opina sobre o Brasil "positivista" de 2003.
"Apesar dessa extrema violência internalizada, o Brasil hoje está mais aberto, mais exposto. Existe aqui uma liberdade interna que não existe no mundo neste momento", diz, contando que começa o show com um vídeo de imagens de passeatas e confrontos de rua dos anos 60. "Aquelas idéias da nossa juventude estão amadurecidas, há um salto qualitativo de lá para cá", completa.
Ex-parceiro tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Macalé se afastou deles a partir de 1972, mesmo ano em que lançou seu primeiro álbum e começou a se consumar como um "maldito" da MPB. Ele é evasivo quanto à escolha e ao desempenho de Gilberto Gil no Ministério da Cultura.
"Não achei nada num primeiro momento, quando ele foi escolhido. Foi uma cartada interessante do Lula. Gil está começando, espero que tenha consciência e faça uma boa gestão."
A propósito, os shows de voz e violão de hoje e amanhã terão participação especial de sua amiga (e irmã de Chico Buarque), Ana de Hollanda, nomeada há pouco por Gil coordenadora de música da Funarte. "A Funarte precisa ser reconstruída, espero que ela consiga ajudar", diz o sessentão Macalé.


DOS 60 AOS 60 - Show comemorativo dos 60 anos de Jards Macalé. Onde: Sala Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 3268-1776). Quando: hoje e amanhã, às 19h30. Quanto: entrada gratuita (retirar os convites com 90 minutos de antecedência).


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