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ANÁLISE
Artista ainda é o reverso da tropicália
DA REPORTAGEM LOCAL
Jards Macalé, apesar de cantor
e compositor de frente de palco, sempre namorou a condição
de figura de bastidor da MPB. Isso
se estende desde os tenros anos
60, quando dirigia shows históricos de Maria Bethânia e participava, com os ainda não tropicalistas
Caetano Veloso e Gilberto Gil, da
peça "Tempo de Guerra" (65), do
teatro Arena.
Em 67, Caetano e Gil inventaram o tropicalismo, movimento
de que Macalé participou de modo discreto, quase indeterminado. Exilados os parceiros após o
AI-5, ficou fornecendo músicas e
arranjos para a fase mais lancinante de Gal Costa ("Vapor Barato", por exemplo), fazendo trilha
para Glauber Rocha, inscrevendo
a tropicalista e polêmica "Gotham
City" no festival de MPB de 69.
Juntou-se a Caetano no exílio
londrino para fazer a direção musical do histórico LP "Transa"
(72). Na edição final, seu nome foi
limado do disco de Caetano, e o
caso mantém até hoje estremecida a relação de ambos.
No mesmo 72, lançava seu primeiro álbum solo ("Jards Macalé", Philips, fora de catálogo) cercado do melhor time de colaboradores: o compositor Waly Salomão, o guitarrista de tropicália
Lanny Gordin, o baterista Tutty
Moreno. O disco era de difícil digestão, o artista maldito estava em
plena gestação.
Sessentões todos eles hoje em
dia, um curioso fenômeno os reaproxima. Waly é secretário do ministro Gil, Caetano desceu do trono de rei da mídia para até gravar
CD com o maldito Jorge Mautner.
Macalé assiste ao movimento na
retranca, indeciso entre o pessimismo e o otimismo. Prepara disco novo pela gravadora independente Lua Discos. Mantém a estrutura semi-amadora de seus
shows, centrando-os em voz, violão e bate-papo. Como Rogério
Duprat e Tom Zé, parece mais
tropicalista que os reis ao rejeitar
mitos de genialidade e estratégias
de plena profissionalização. Desfruta de dores e delícias que os outros desconhecem. E vice-versa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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