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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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ANÁLISE

Artista ainda é o reverso da tropicália

DA REPORTAGEM LOCAL

Jards Macalé, apesar de cantor e compositor de frente de palco, sempre namorou a condição de figura de bastidor da MPB. Isso se estende desde os tenros anos 60, quando dirigia shows históricos de Maria Bethânia e participava, com os ainda não tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, da peça "Tempo de Guerra" (65), do teatro Arena.
Em 67, Caetano e Gil inventaram o tropicalismo, movimento de que Macalé participou de modo discreto, quase indeterminado. Exilados os parceiros após o AI-5, ficou fornecendo músicas e arranjos para a fase mais lancinante de Gal Costa ("Vapor Barato", por exemplo), fazendo trilha para Glauber Rocha, inscrevendo a tropicalista e polêmica "Gotham City" no festival de MPB de 69.
Juntou-se a Caetano no exílio londrino para fazer a direção musical do histórico LP "Transa" (72). Na edição final, seu nome foi limado do disco de Caetano, e o caso mantém até hoje estremecida a relação de ambos.
No mesmo 72, lançava seu primeiro álbum solo ("Jards Macalé", Philips, fora de catálogo) cercado do melhor time de colaboradores: o compositor Waly Salomão, o guitarrista de tropicália Lanny Gordin, o baterista Tutty Moreno. O disco era de difícil digestão, o artista maldito estava em plena gestação.
Sessentões todos eles hoje em dia, um curioso fenômeno os reaproxima. Waly é secretário do ministro Gil, Caetano desceu do trono de rei da mídia para até gravar CD com o maldito Jorge Mautner.
Macalé assiste ao movimento na retranca, indeciso entre o pessimismo e o otimismo. Prepara disco novo pela gravadora independente Lua Discos. Mantém a estrutura semi-amadora de seus shows, centrando-os em voz, violão e bate-papo. Como Rogério Duprat e Tom Zé, parece mais tropicalista que os reis ao rejeitar mitos de genialidade e estratégias de plena profissionalização. Desfruta de dores e delícias que os outros desconhecem. E vice-versa.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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