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POLÍTICA CULTURAL
Governo da cidade gasta R$ 1,2 mi com Lenny Kravitz, mas atrasa pagamentos em outras áreas
Em dívida com artistas, Prefeitura do Rio investe em show
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo sem arcar com o cachê
do cantor americano, a Prefeitura
do Rio está gastando R$ 1,2 milhão com o show que Lenny Kravitz fará na próxima segunda, na
praia de Copacabana, encerrando
as comemorações pelos 440 anos
da cidade. Será o único show gratuito dos quatro que ele fará no
Brasil. O anúncio do desembolso
chegou em meio a uma crise entre
o poder municipal e os artistas.
Desde o ano passado, a prefeitura vem sendo cobrada pelo atraso
de diversos pagamentos na área
cultural. O Festival Internacional
de Cinema do Rio aguarda a última parcela de R$ 1 milhão, referente à mostra de 2004. Na semana passada, músicos da Orquestra
Sinfônica Brasileira entraram em
greve por estar há três meses sem
receber salários.
Os protestos mais ruidosos vieram da dança, exatamente uma
das áreas prioritárias do primeiro
mandato de Cesar Maia (1993-96). Iniciou-se na época um programa de subvenção a grupos e o
patrocínio à mostra Panorama da
Dança. Em fevereiro, a coreógrafa
Lia Rodrigues, diretora do Panorama, puxou uma vaia ao prefeito
em um evento, devido aos R$ 72
mil que tinha para receber.
Na última sexta, Lia recebeu a
quantia. As 13 companhias que
são subvencionadas hoje -com
R$ 60 mil anuais- também começaram a receber seus atrasados. Mas, para Lia, o problema
não se resume a dinheiro. "Falta
uma política coerente e consistente. É preciso ter um programa efetivo, regras transparentes, inscrições por editais e uma comissão
idônea", afirma. Segundo o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira, os atrasos ocorreram pela necessidade de "cumprimento dos aplicativos da Lei de
Responsabilidade Fiscal". Ele diz
que as dívidas serão pagas até o final de março.
Muitas companhias de dança se
fortaleceram nos anos 90 com o
patrocínio municipal. Mas houve
quem preferisse sair, como Deborah Colker, apoiada por empresas, e João Saldanha, que realiza
projetos com o Sesc. "Saí há três
anos, e foi a melhor coisa que fiz.
Não quero estar atado a compromissos políticos. Meus colegas
parecem ter receio de se queixar
da prefeitura porque estão com o
rabo preso", diz Saldanha.
Ele está entre os que não concordam com a prioridade dada
pela Secretaria Municipal das
Culturas ao Centro Coreográfico,
obra que custou R$ 4,3 milhões.
"O centro não cobre a demanda
que a dança do Rio exige", diz.
Macieira não deixa dúvidas:
"Tudo o que diz respeito à dança
tem como ponto de referência o
Centro Coreográfico."
O centro é uma das obras de impacto que Maia passou a priorizar
a partir de seu segundo mandato,
iniciado em 2001. Outra é a Cidade do Samba, que reunirá barracões de escolas de samba na zona
portuária. Já a Cidade da Música,
na Barra da Tijuca, terá salas de
concerto e uma sede para a OSB.
A mais turbulenta dessas iniciativas foi a tentativa de trazer uma
filial do museu Guggenheim, de
Nova York, para o Rio. As negociações foram interrompidas depois que a prefeitura não conseguiu derrubar a liminar que a impediu de pagar uma parcela de
US$ 9 milhões ao museu em 2003.
Maia abriu negociações com
outro importante museu, o Georges Pompidou, de Paris. Há três
semanas, encaminhou a Macieira
um comunicado em que, segundo
ele, a instituição demonstrava o
interesse em instalar uma filial.
A Secretaria Municipal das Culturas tem orçamento de R$ 200
milhões. Segundo Macieira, a prefeitura investe R$ 800 mil por ano
nas companhias de dança. Na rede municipal de teatros (dez salas
e seis lonas culturais), são gastos
R$ 8 milhões na manutenção, R$
2,5 milhões em espetáculos e mais
R$ 5 milhões no edital do Fate
(Fundo de Apoio ao Teatro). O
ator Miguel Falabella comanda a
rede.
Sobre o show de Kravitz, Ana
Maria Maia, subsecretária de
eventos do gabinete do prefeito,
diz que o evento deve gerar cerca
de R$ 300 milhões para a cidade.
"O Rio tem que voltar a entrar no
circuito internacional de shows,
como acontecia há alguns anos."
Colaborou Thiago Ney, da Reportagem
Local
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