São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

Governo da cidade gasta R$ 1,2 mi com Lenny Kravitz, mas atrasa pagamentos em outras áreas

Em dívida com artistas, Prefeitura do Rio investe em show

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo sem arcar com o cachê do cantor americano, a Prefeitura do Rio está gastando R$ 1,2 milhão com o show que Lenny Kravitz fará na próxima segunda, na praia de Copacabana, encerrando as comemorações pelos 440 anos da cidade. Será o único show gratuito dos quatro que ele fará no Brasil. O anúncio do desembolso chegou em meio a uma crise entre o poder municipal e os artistas.
Desde o ano passado, a prefeitura vem sendo cobrada pelo atraso de diversos pagamentos na área cultural. O Festival Internacional de Cinema do Rio aguarda a última parcela de R$ 1 milhão, referente à mostra de 2004. Na semana passada, músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira entraram em greve por estar há três meses sem receber salários.
Os protestos mais ruidosos vieram da dança, exatamente uma das áreas prioritárias do primeiro mandato de Cesar Maia (1993-96). Iniciou-se na época um programa de subvenção a grupos e o patrocínio à mostra Panorama da Dança. Em fevereiro, a coreógrafa Lia Rodrigues, diretora do Panorama, puxou uma vaia ao prefeito em um evento, devido aos R$ 72 mil que tinha para receber.
Na última sexta, Lia recebeu a quantia. As 13 companhias que são subvencionadas hoje -com R$ 60 mil anuais- também começaram a receber seus atrasados. Mas, para Lia, o problema não se resume a dinheiro. "Falta uma política coerente e consistente. É preciso ter um programa efetivo, regras transparentes, inscrições por editais e uma comissão idônea", afirma. Segundo o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira, os atrasos ocorreram pela necessidade de "cumprimento dos aplicativos da Lei de Responsabilidade Fiscal". Ele diz que as dívidas serão pagas até o final de março.
Muitas companhias de dança se fortaleceram nos anos 90 com o patrocínio municipal. Mas houve quem preferisse sair, como Deborah Colker, apoiada por empresas, e João Saldanha, que realiza projetos com o Sesc. "Saí há três anos, e foi a melhor coisa que fiz. Não quero estar atado a compromissos políticos. Meus colegas parecem ter receio de se queixar da prefeitura porque estão com o rabo preso", diz Saldanha.
Ele está entre os que não concordam com a prioridade dada pela Secretaria Municipal das Culturas ao Centro Coreográfico, obra que custou R$ 4,3 milhões. "O centro não cobre a demanda que a dança do Rio exige", diz.
Macieira não deixa dúvidas: "Tudo o que diz respeito à dança tem como ponto de referência o Centro Coreográfico."
O centro é uma das obras de impacto que Maia passou a priorizar a partir de seu segundo mandato, iniciado em 2001. Outra é a Cidade do Samba, que reunirá barracões de escolas de samba na zona portuária. Já a Cidade da Música, na Barra da Tijuca, terá salas de concerto e uma sede para a OSB.
A mais turbulenta dessas iniciativas foi a tentativa de trazer uma filial do museu Guggenheim, de Nova York, para o Rio. As negociações foram interrompidas depois que a prefeitura não conseguiu derrubar a liminar que a impediu de pagar uma parcela de US$ 9 milhões ao museu em 2003.
Maia abriu negociações com outro importante museu, o Georges Pompidou, de Paris. Há três semanas, encaminhou a Macieira um comunicado em que, segundo ele, a instituição demonstrava o interesse em instalar uma filial.
A Secretaria Municipal das Culturas tem orçamento de R$ 200 milhões. Segundo Macieira, a prefeitura investe R$ 800 mil por ano nas companhias de dança. Na rede municipal de teatros (dez salas e seis lonas culturais), são gastos R$ 8 milhões na manutenção, R$ 2,5 milhões em espetáculos e mais R$ 5 milhões no edital do Fate (Fundo de Apoio ao Teatro). O ator Miguel Falabella comanda a rede.
Sobre o show de Kravitz, Ana Maria Maia, subsecretária de eventos do gabinete do prefeito, diz que o evento deve gerar cerca de R$ 300 milhões para a cidade. "O Rio tem que voltar a entrar no circuito internacional de shows, como acontecia há alguns anos."


Colaborou Thiago Ney, da Reportagem Local


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