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"Galã" Zé Bonitinho completa 50 anos
O "perigote das mulheres" estreou em 1960, no programa "Noites Cariocas"
Papel mais marcante de seu criador, o ator Jorge Loredo, o personagem serviu de inspiração a dois filmes do cineasta Rogério Sganzerla
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mulher para mim é igual parafuso: é no arrocho", diz o sujeito de topete, imensos óculos
e delgado bigodinho ao se atracar com sua parceira de palco,
nos estúdios do programa "A
Praça É Nossa" (SBT). Na hora
"H", no entanto, ele dá a desculpa que a plateia sabe de cor: já
beijou 999 mulheres naquele
dia e está com a boca mole.
Gravação concluída, ele recebe fortes aplausos. Há 50 anos a
reação se repete quando Zé Bonitinho, "o perigote das mulheres" criado pelo comediante
Jorge Loredo, entra em cena.
Antes mesmo de chegar à TV,
o personagem já era um sucesso entre os amigos de Loredo. A
inspiração para o papel veio do
Jarbas, colega metido a garanhão. "O Jarbas era uma figura,
cantava todas as mulheres, parava em frente ao espelho para
pentear o bigode. Eu o imitava
nas festas e as pessoas se divertiam demais."
Reação idêntica teve o público que presenciou a estreia de
Bonitinho no programa "Noites Cariocas", na antiga TV Rio,
em 1960. Logo de cara foram
tantas as risadas que Loredo ficou incomodado: ninguém ouviu as piadas seguintes.
Loredo já era famoso no final
dos anos 50 (interpretava o
mendigo filósofo na "Praça da
Alegria"), mas foi Zé Bonitinho
que marcou definitivamente
sua carreira, a tal ponto que
ainda hoje é confundido com o
personagem. "Houve uma época em que me incomodava ficar
tão preso a ele. Até que um amigo me disse: "Chaplin morreu
Carlitos, Mario Moreno morreu Cantinflas, e você vai morrer Zé Bonitinho". Então, paciência, né...".
Atração popular, o personagem ganhou fama de "cult"
quando um jovem cineasta cabeludo apareceu de madrugada
na casa de Loredo, o convidando para filmar, já no dia seguinte, uma ideia inspirada em Zé
Bonitinho. O diretor era Rogério Sganzerla, e dessa parceria
saíram "Sem Essa, Aranha"
(1970) e "O Abismo" (1978).
"Rogério era um gênio. Não
havia roteiro, ele anotava as
ideias e criávamos a partir daí."
Prestes a completar 85 anos
(7 de maio), Loredo continua
atuando com prazer, mas não é
em tom de piada que afirma ser
um comediante por acidente.
Até a idade adulta, sua vida
mais parecia um dramalhão
mexicano do que uma chanchada da Atlântida (influência confessa de seu trabalho).
Ainda criança, machucou seriamente a perna esquerda. A
dor constante, só curada na década de 70, fez dele um garoto
introvertido e tristonho.
Aos 20 anos, por causa de
uma doença pulmonar, foi internado num sanatório. O que
parecia ser a tragédia final de
sua vida foi, ao contrário, sua
salvação. Incentivado pelos
médicos, participou do grupo
teatral do hospital e descobriu
sua vocação.
Ao receber alta, um teste vocacional identificou tendência
para "atividades exibicionistas". Loredo procurou uma escola de teatro, em busca de papéis "sérios", "Shakespeare e
Tchekhov ". A contragosto, seu
primeiro teste foi representar
um monólogo cômico, "Como
Pedir uma Moça em Casamento". Aprovado, adotou o riso como profissão.
Apesar do meio século de
convívio com Zé Bonitinho, Loredo conta que nunca foi galanteador. Depois de três casamentos, vive hoje com uma
companheira, e se diz um homem recatado. "O artista só pode representar aquilo que não
é, no máximo aquilo que gostaria de ser. Se tivesse algo do Zé,
não faria o personagem."
Confessa, no entanto, que já
recebeu muitas cantadas por
causa do personagem. Certa
vez, depois de um show, uma fã
convidou-o para uma noitada,
mas com uma condição: que
fosse de Zé Bonitinho. "Claro
que não fui, né. Já imaginou, o
Bonitinho e eu dividindo a
mesma mulher no motel?", ri.
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