São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

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Editora Imago lança neste mês "Jantando com Melvin", segundo livro de ficção do escritor e articulista da Folha Marcelo Coelho; obra faz sátira feroz da elite paulistana que trafega entre o poder, a universidade e a coluna social
Marcelo Coelho satiriza "ex-esquerda"

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

"Jantando com Melvin", o novo livro do escritor Marcelo Coelho, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é uma obra destinada a provocar gargalhadas ou mal-estar (ou ambos), dependendo de quem lê.
O livro, lançado pela Imago, descreve com requintes de sarcasmo um jantar oferecido a um maestro norte-americano, Melvin Bronstein, numa casa do Sumaré.
Entre os comensais estão um economista da Unicamp que vai a Boston trabalhar como executivo de um grande banco, um intelectual que passou a criar galinhas-d'angolas em Ibiúna e um escritor (o narrador da história) que tem bronca de Rubem Fonseca.
Sátira feroz da turma que trafega entre o poder, a universidade e a coluna social, "Jantando com Melvin" é o segundo livro de ficção do autor, que publicou anteriormente "Noturno" e as coletâneas jornalísticas "Gosto se Discute" e "Trivial Variado".

Folha - Em "Jantando com Melvin" cada personagem corresponde a uma figura real?
Marcelo Coelho -
Não. Não é "roman à clé". Claro que o ambiente é muito reconhecível, e pode-se identificar muita coisa de pessoas reais nos personagens. Mas para mim eles foram se formando aos poucos.
A Mercedes, por exemplo, é mexicana. Daí foram surgindo várias associações de idéias: com o México, com ídolo asteca etc. O personagem foi sendo criado dentro do universo de metáforas associadas ao eixo México/violência.
Esse tipo de desenvolvimento literário afastou o vínculo que os personagens pudessem ter com qualquer indivíduo real.
Folha - Qual foi sua motivação para escrever um livro tão diferente do anterior, "Noturno"?
Coelho -
O "Noturno" foi uma espécie de desafogo íntimo. Peguei coisas que me comoviam, fiz uma coisa lírica. Depois, fiquei sem idéia do que fazer, como se tivesse me esvaziado daquilo que tinha ficado engasgado.
O segundo ficou muito o contrário, muito sarcástico, antilírico. "Jantando com Melvin" surgiu do interior do projeto de um outro livro, que ainda não consegui fazer, no qual ia haver um conto que seria uma espécie de pastiche do Henry James. Um daqueles casos do James em que alguém encontra um artista numa festa.
A isso se juntou o ímpeto da irritação cotidiana de ter de ir a um monte de encontros sociais a contragosto. O livro surgiu dessa irritação e da vontade de criticar esse ambiente social paulista.



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