São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

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OPINIÃO
Jantando com o inimigo

JOYCE PASCOWITCH
Colunista da Folha

Rápido como um filme daqueles que a gente nem olha no relógio. Uma sátira de fino trato, que pega literalmente pelo estômago deixando, depois do café, um gosto de final de milênio. Nem parece que o autor, Marcelo Coelho, não faz parte dessa festa. Como observador ácido de toda essa modernidade fajuta, cheia de clichês, ele consegue mexer com essa turma que acredita que, com uma tese de doutorado e um sítio em Ibiúna, mais conversas tipo cabeça e desejos enrustidos se faz um país.
Nem o economista, que saiu do governo cheio de informações privilegiadas e depois vira mais um rico, é poupado em "Jantando com Melvin".
Até o coitado do Melvin, o infeliz, maestro americano com ataques de cucarachice, grande homenageado, afinal, do jantar, é poupado. Também, vem lá dos Estados Unidos, é o bacana de Nova York e na hora que chega aqui só pensa em comer criancinhas -literalmente. Assim, o autor tem razão, não dá.
Permeado por todos os clichês do suposto comportamento moderno, aberto, o romance faz sua ode particular ao que se vê no Brasil de hoje. Não no Brasil que interessa de verdade, mas sim no Brasil de Brasília, a Corte onde reina o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
Blasé como um vinho metido, o jantar em torno do maestro Melvin nos mostra o caminho das pedras: Essa "gente que vale a pena" não está com nada.
Para aprender de verdade o que é viver, basta se jogar pelo interiorzão desse Brasil enorme e rico em culturas e comportamentos. Isso sim é que é vida.



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