|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Leituras retificam história da MPB
da Redação
Independente, ela nunca esteve
entre as cantoras mais comentadas
deste Brasil -mas só porque poucos conhecem sua voz. Em "Na
Trilha do Cinema", a paulista Cida Moreira só dá mais uma pequena mostra do que é capaz como
uma das grandes cantoras do país.
Desta vez, ela faz -fato incomum em sua carreira quase sempre orientada a discos temáticos-
opção por forte dose de ecletismo.
Assim, o CD passeia pelo universo interiorano de "Tristeza do Jeca", pela mineirice de "Noites do
Sertão", pela urbanidade matreira de "Dolores Sierra", por chavões da MPB ("A Felicidade", "À
Flor da Pele"). Fica difícil apreciar
todas as 16 faixas, uma por uma.
Ficaria, não houvesse um fator
unificador de qualidade. Tal fator
é o bem cantar de Cida Moreira,
sempre oscilando entre a beleza da
música popular ("Você Já Foi à
Bahia?", "Mulher Rendeira") e a
contundência lírica, quase erudita, de sua voz ("Vocalise").
Assim é quando tudo está pela
média. Mas a seriedade lírica se extrapola ao modo de encarar cada
canção que Cida sempre ostentou.
Aí ela chega, por vezes, ao genial.
É o que acontece quando enfrenta, despida de preconceitos, canções atípicas -a temática caipira
de "Tristeza do Jeca"-, o esquerdismo fanático da canção de
protesto ("Perseguição", aquela
que diz: "Se entrega, Corisco/ Eu
não me entrego, não"), o clichê
pós-tropicalista sobre o que é cafonice ("O Ébrio").
A última ela despe da convenção
de que Vicente Celestino é kitsch
-a mais bela criação do CD é uma
peça quase erudita, com tudo de
barroco que há no poema. "Perseguição" e "O Ébrio" são canções
que já não se cantam mais, "passadas". Cida Moreira vem retificar a história.
(PAS)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|