São Paulo, segunda, 14 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leituras retificam história da MPB

da Redação

Independente, ela nunca esteve entre as cantoras mais comentadas deste Brasil -mas só porque poucos conhecem sua voz. Em "Na Trilha do Cinema", a paulista Cida Moreira só dá mais uma pequena mostra do que é capaz como uma das grandes cantoras do país.
Desta vez, ela faz -fato incomum em sua carreira quase sempre orientada a discos temáticos- opção por forte dose de ecletismo.
Assim, o CD passeia pelo universo interiorano de "Tristeza do Jeca", pela mineirice de "Noites do Sertão", pela urbanidade matreira de "Dolores Sierra", por chavões da MPB ("A Felicidade", "À Flor da Pele"). Fica difícil apreciar todas as 16 faixas, uma por uma.
Ficaria, não houvesse um fator unificador de qualidade. Tal fator é o bem cantar de Cida Moreira, sempre oscilando entre a beleza da música popular ("Você Já Foi à Bahia?", "Mulher Rendeira") e a contundência lírica, quase erudita, de sua voz ("Vocalise").
Assim é quando tudo está pela média. Mas a seriedade lírica se extrapola ao modo de encarar cada canção que Cida sempre ostentou. Aí ela chega, por vezes, ao genial.
É o que acontece quando enfrenta, despida de preconceitos, canções atípicas -a temática caipira de "Tristeza do Jeca"-, o esquerdismo fanático da canção de protesto ("Perseguição", aquela que diz: "Se entrega, Corisco/ Eu não me entrego, não"), o clichê pós-tropicalista sobre o que é cafonice ("O Ébrio").
A última ela despe da convenção de que Vicente Celestino é kitsch -a mais bela criação do CD é uma peça quase erudita, com tudo de barroco que há no poema. "Perseguição" e "O Ébrio" são canções que já não se cantam mais, "passadas". Cida Moreira vem retificar a história. (PAS)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã