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CINEMA - ESTRÉIA
Oliver Stone filma o futebol Disneylândia
CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha,
de Los Angeles
Poucos cineastas entraram tão
fundo e com tanta determinação
na consciência de sua geração
quanto Oliver Stone. Talvez por
essa razão, ele, um produto da juventude dos anos 60, retorne com
tanta frequência a temas como
drogas, música, ganância, masculinidade e guerra, entre outros.
Com "Um Domingo Qualquer", é a vez de Oliver Stone jogar-se no mundo corporativo e
atual do futebol americano.
O filme explora a rotina do esporte que se transformou em
evento imbatível. Não somente
para aqueles que comparecem ao
campo como para os milhões
que, de casa, acompanham seus
gladiadores prediletos pela pequena telinha, responsável pela
transformação desse esporte num
gigantesco e lucrativo evento de
mídia.
No longo "Um Domingo Qualquer" (o filme passa das duas horas de duração), Oliver Stone conta com um elenco de primeira: Al
Pacino é um veterano técnico de
futebol; Cameron Diaz, a dirigente de um clube; e Dennis Quaid,
um dos jogadores que recorrem
ao que podem para manter seus
nomes em destaque numa carreira cuja sobrevida não passa de
quatro anos de competição profissional. O cenário é composto,
ainda, de outros talentos como
Ann-Margret, LL Cool J, Elizabeth Hurley, James Woods, Jamie
Foxx e do próprio Stone.
Em entrevista à Folha, o cineasta fala de seu fascínio pelo futebol
e, entre outros assuntos, de sua
reputação de ser um dos mais exigentes cineastas da atualidade nos
sets de filmagem.
Folha - Por que o sr. resolveu
discutir em filme o mundo do
futebol americano?
Oliver Stone - Justamente pelo
fato de o esporte ter mudado tanto com o passar dos anos. Hoje o
futebol não passa de uma enorme
corporação. O preço das equipes
saltou para valores impressionantes. Times já possuem preço de
mercado estimado em quase US$
1 bilhão, dinheiro que daria para
comprar todas as equipes de poucas décadas atrás juntas. A idéia é
fazer de cada time uma grande
Disneylândia, como se o esporte
ainda fosse um entretenimento
para toda a família como era antes.
Folha - Seria vender uma imagem "light" do que realmente
representa o esporte?
Stone - Correto. Eles têm de
vender essa versão do jogo para o
público. Hoje o futebol é um negócio e tanto, que movimenta bilhões de dólares. E essa fortuna
está em jogo a cada minuto. Qualquer crítica, acusação de uso de
drogas por um jogador ou violência familiar pode levar uma equipe à ruína. A verdade é que esses
problemas são uma constante no
mundo do futebol.
Como em qualquer outro negócio, existe gente boa envolvida no
esporte, mas também muitos criminosos, gente que mata, muitas
festas, drogas. Estamos falando
de muitos caras que saíram do
gueto sem ter tido a oportunidade de frequentar a escola. Eles
não tinham outra opção na vida a
não ser se transformar numa estrela do futebol ou num boxeador
famoso para ter um futuro.
Folha - Gravar um filme sobre
um esporte tão violento e rápido não resultou em contusões
no set?
Stone - Várias. Eu mesmo fiquei com um dedo do pé roxo durante dois meses por causa de
uma pisada de Jamie Foxx. Mas
isso era de esperar. Esse é um filme que não tem vilões. Mesmo a
personagem interpretada por Cameron Diaz, que é uma pessoa
bem durona e aparentemente fria
e calculista, não passa de uma
menina. Ela foi criada sob muita
rigidez por parte do pai. Cresceu
sendo tratada como um garoto. A
mãe era uma alcoólatra, e por aí
vai. Tentei trazer essas surpresas
no filme. A aparência desmascarando a realidade.
Folha - E a fama de cineasta
durão no set que o sr. tem faz
sentido?
Stone - Acho que você se torna
um cineasta diferente em cada filme que faz. Nesse filme, tive de
ser bastante metódico, regrado,
porque eu tinha um elenco masculino enorme sob meu comando. Muitos corpos em movimento, muita rapidez. Fiz o filme em
65 dias, o que para mim foi uma
vitória, já que, se comparado à
média, poderia ter feito um filme
gravado em cem dias, caríssimo e
com grandes chances de fracasso.
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