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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição com curadoria de Aracy Amaral explora obras de arte engajadas

Panfletagem colorida

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Movimentos pela paz, apelos contra o imperialismo americano, campanha contra a fome. Temas com destaque na agenda de 2003 tornam-se ecos de um passado não tão distante na mostra "Arte e Sociedade - Uma Relação Polêmica", que o Itaú Cultural exibe a partir de amanhã, com curadoria de Aracy Amaral, auxiliada por Regina Teixeira de Barros.
A mostra foi organizada a partir do livro "Arte para Quê", publicado pela curadora, em 1983, que é relançado amanhã. "Em dezembro passado, recebi o convite irrecusável de organizar uma mostra a partir de meu livro, que estava esgotado, e seria, por conta da mostra, reeditado", diz Amaral.
"Arte para Quê" traça um panorama das artes plásticas brasileiras, da década de 30 à década de 70, a partir de trabalhos engajados em questões sociais e políticas do país. Na mostra, o período foi estendido até a eleição de Lula.
Questão central, no livro e na mostra, é o papel desempenhado pelo artista na sociedade. Cabe a ele mobilizar um processo de transformação social? "Eu não acho. Ao artista cabe o grito. Como diz Ezra Pound, o artista é a antena de seu tempo, o que nem sempre é consciente. Artistas da arte pop americana, como Andy Warhol ou Lichtenstein, afirmaram não ter nenhum intuito crítico ou irônico em relação à sociedade de consumo. No entanto, atualmente, faz-se uma leitura diversa", afirma a curadora.
Didática, a exposição está organizada de forma cronológica. A primeira parte apresenta obras dos anos 30 e 40. As três obras alocadas na entrada do módulo sintetizam o período: "Operários", de Tarsila do Amaral, "Guerra", de Lasar Segall, e "Café", de Portinari. A vida de trabalhadores e camponeses, além dos dramas da guerra, repercutem nas obras.
Já a segunda seção da exposição, dedicada aos anos 60 e 70, ganha atualidade, especialmente pela guerra no Iraque. Artistas como Claudio Tozzi e Rubens Gerchman, mesmo sob influência do pop americano, pregavam mensagens antiimperialistas. Ao mesmo tempo, a arte brasileira também não se calou frente ao golpe militar de 1964, como em "Carrasco", de Antonio Dias, ou "Malhas da Liberdade", de Cildo Meireles.
Finalmente, as obras dos anos 80 e 90 retratam temas sociais que ganharam importância, como a violência, caso das obras de Rosângela Rennó e Rosana Palazyan, ou questões ecológicas, como as telas de Siron Franco e as fotos de Caio Reisewitz.
O conjunto completo revela uma história brasileira da arte engajada, panfletária, explícita demais, em alguns momentos, ou mais sutil, em outros, dependendo da "antena" de cada artista.



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