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ARTES PLÁSTICAS
Exposição com curadoria de Aracy Amaral explora obras de arte engajadas
Panfletagem colorida
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Movimentos pela paz, apelos
contra o imperialismo americano, campanha contra a fome. Temas com destaque na agenda de
2003 tornam-se ecos de um passado não tão distante na mostra
"Arte e Sociedade - Uma Relação
Polêmica", que o Itaú Cultural
exibe a partir de amanhã, com curadoria de Aracy Amaral, auxiliada por Regina Teixeira de Barros.
A mostra foi organizada a partir
do livro "Arte para Quê", publicado pela curadora, em 1983, que é
relançado amanhã. "Em dezembro passado, recebi o convite irrecusável de organizar uma mostra
a partir de meu livro, que estava
esgotado, e seria, por conta da
mostra, reeditado", diz Amaral.
"Arte para Quê" traça um panorama das artes plásticas brasileiras, da década de 30 à década de
70, a partir de trabalhos engajados
em questões sociais e políticas do
país. Na mostra, o período foi estendido até a eleição de Lula.
Questão central, no livro e na
mostra, é o papel desempenhado
pelo artista na sociedade. Cabe a
ele mobilizar um processo de
transformação social? "Eu não
acho. Ao artista cabe o grito. Como diz Ezra Pound, o artista é a
antena de seu tempo, o que nem
sempre é consciente. Artistas da
arte pop americana, como Andy
Warhol ou Lichtenstein, afirmaram não ter nenhum intuito crítico ou irônico em relação à sociedade de consumo. No entanto,
atualmente, faz-se uma leitura diversa", afirma a curadora.
Didática, a exposição está organizada de forma cronológica. A
primeira parte apresenta obras
dos anos 30 e 40. As três obras alocadas na entrada do módulo sintetizam o período: "Operários",
de Tarsila do Amaral, "Guerra",
de Lasar Segall, e "Café", de Portinari. A vida de trabalhadores e
camponeses, além dos dramas da
guerra, repercutem nas obras.
Já a segunda seção da exposição,
dedicada aos anos 60 e 70, ganha
atualidade, especialmente pela
guerra no Iraque. Artistas como
Claudio Tozzi e Rubens Gerchman, mesmo sob influência do
pop americano, pregavam mensagens antiimperialistas. Ao mesmo tempo, a arte brasileira também não se calou frente ao golpe
militar de 1964, como em "Carrasco", de Antonio Dias, ou "Malhas
da Liberdade", de Cildo Meireles.
Finalmente, as obras dos anos
80 e 90 retratam temas sociais que
ganharam importância, como a
violência, caso das obras de Rosângela Rennó e Rosana Palazyan, ou questões ecológicas, como as telas de Siron Franco e as
fotos de Caio Reisewitz.
O conjunto completo revela
uma história brasileira da arte engajada, panfletária, explícita demais, em alguns momentos, ou
mais sutil, em outros, dependendo da "antena" de cada artista.
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