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Livro investiga como Bob Dylan fez, em 1965, sua maior canção
IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Se há uma coisa que Bob
Dylan nunca levou a sério foram os pedidos para que ele explicasse as letras de suas canções. Mas se fãs e admiradores
podem apenas reclamar da desconsideração do artista, os jornalistas têm outra possibilidade: escrever livros inteiros sobre suas canções preferidas.
É o caso de Greil Marcus, jornalista cultural formado em
ciências políticas, e do livro "Like a Rolling Stone - Bob Dylan
na Encruzilhada". Ali ele conta
a história da gravação ("O melhor disco já feito, ou o melhor
disco que poderia ser feito."),
dá uma geral no clima da época
("Em 1965, todos eles -os Beatles, os Rollings Stones, Dylan e
os demais- estavam se superando mês a mês, como se carregados por uma torrente.") e
analisa o poder da música
("Quando as pessoas tomaram
conhecimento da canção antes
mesmo de a ouvirem, ela parecia menos uma peça musical do
que um golpe de superioridade
que ultrapassava a compreensão pop.").
Há curiosidades que só quem
vivenciou a época poderia saber (Marcus tinha 20 anos em
1965): "Já ouviu falar no disco
novo do Bob Dylan? Chama-se
"Like a Rolling Stone". Dá pra
acreditar? Como se ele quisesse
entrar na banda. Como se ele
fosse um "rolling stone'".
A obra foi publicada em 2005
nos EUA e ganhou críticas desconfiadas, conforme ele contou
à Folha: "Foi recebido com estranheza. Houve surpresa das
pessoas, dizendo "meu Deus,
um livro de 250 páginas sobre
uma canção. Estranho...'".
Se o livro cresce quando
Marcus faz reportagem, recuperando informações que colocam a canção em seu habitat,
fica um pouco cansativo quando ele passa à análise, enfiando
metáforas em tudo o que é canto: Dylan não canta, as palavras
são "bombas" que "explodem
em sua boca"; o órgão entra
"como uma comporta se abrindo" e Michael Bloomfield não
aparece tocando sua guitarra,
mas "girando sua roda dourada". São os famosos excessos
dos anos 1960.
LIKE A ROLLING STONE
Autor: Greil Marcus
Tradução: Celso Mauro Paciornik
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 42 (258 págs.)
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