São Paulo, segunda, 14 de abril de 1997.

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CRÍTICA
Ator estréia na direção com `love story'

JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha

Diante da briga de foice que é hoje no Brasil conseguir um lugar ao sol no circuito exibidor, os distribuidores de ``Infinity - Um Amor Sem Limites'' optaram por queimar a etapa das salas de cinema e lançá-lo direto em vídeo.
O filme marca a estréia do ator Matthew Broderick na direção. Seu tema é a história de amor entre o físico norte-americano Richard Feynman (o próprio Broderick) e a aprendiz de artista Arline Greenbaum (Patricia Arquette), que sofre de uma doença incurável.
Seria um romance banal se Feynman não fosse um dos criadores da primeira bomba atômica norte-americana, nos anos 40.
O filme entrelaça então duas ordens de acontecimentos: a história de amor propriamente dita e a inserção de Feynman no projeto secreto Los Alamos, que buscava viabilizar a utilização da energia atômica num artefato de guerra.
Levando em conta que Feynman foi um cientista atípico, bem-humorado e iconoclasta (que chegou a dar aulas no Brasil e ganhou o Nobel em 1965), seria o caso de esperar um filme divertido e rico em especulações científicas.
Nada disso. Já a partir de seu recorte temporal -abarca apenas os anos 30 e 40-, o filme mostra que seu interesse central, senão único, é a infeliz história de amor entre Feynman e Arline.
Todo o resto -a formação intelectual do cientista, sua relação com os outros físicos (entre eles Einstein e Oppenheimer), o ambiente social e político dos EUA às vésperas e durante a guerra, as questões éticas envolvidas na fabricação da bomba- fica à sombra, quando não é sumariamente ignorado.
A primeira sequência -Feynman, ainda criança, recebendo de seu pai autodidata uma aula prática sobre inércia- dá a falsa impressão de que ao longo do filme as questões da física serão traduzidas em experiência viva.
Mas Hollywood hoje tem a capacidade de reduzir a maior riqueza de experiências e idéias às sempre mesmas duas ou três fórmulas que se repetem. No caso específico de ``Infinity'', isso significa reduzir uma existência humana rica e contraditória a uma reiteração de ``Love Story'' num outro cenário.
Cabe ainda comentar essa onda de atores que se tornam diretores no cinema americano.
Com raríssimas exceções, eles apenas repetem o cinema pasteurizado e impessoal do ``mainstream'' hollywoodiano -como se sua ``assinatura'' consistisse em fornecer a granel generosos closes de si mesmos.
Aqui, a única coisa digna de destaque é a bela fotografia de Toyomichi Kurita, que em sua vaga e poética luminescência lembra os quadros de Edward Hopper.

Filme: Infinity - Um Amor Sem Limites Produção: EUA, 1996 Direção: Matthew Broderick Com: Matthew Broderick, Patricia Arquette, Peter Riegert Lançamento: Flashstar (011/255-9911)

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