São Paulo, segunda, 14 de abril de 1997.

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ARTES PLÁSTICAS
Mostra recebe artistas fugitivos de Hitler

ADRIANE GRAU
especial para a Folha

em Los Angeles
Fotos Divulgação
"The Divers" (42), de Léger, está na mostra "Exilados e Emigrantes: a Fuga dos Artistas Europeus de Hitler


A ascensão do nazismo na Alemanha e as perseguições anti-semitas de Adolph Hitler mudaram a face do mundo. Mas além das mortes resultantes da política do 3º Reich, houveram os exílios forçados e voluntários de intelectuais e artistas plásticos que deixaram os países ocupados e renasceram nos Estados Unidos.
A exposição "Exilados e Emigrantes: a Fuga dos Artistas Europeus de Hitler" mostra como os artistas banidos pelos nazistas acabaram transformando New York na nova capital das artes ainda durante a guerra.
A mostra foi organizada por Stephanie Barron (leia artigo nesta página), a premiada curadora de Arte do Século 20 do LACMA (Los Angeles County Museum of Art) e fica em cartaz em Los Angeles até 11 de maio.
Depois, segue para Museum of Fine Arts em Montreal, entre 19 de junho e 7 de setembro, e para a Neue Nationalgalerie de Berlim, entre 9 de outubro e 4 de janeiro de 1998.
Censura e fuga
Espalhadas por seis salas estão 130 obras de 23 artistas. Nem todos eram judeus e muitos deixaram a Europa por causa da censura prévia imposta pela Reichkulturkammer (A Câmara de Cultura do Reich). Entre eles, Marc Chagall, Salvador Dalí, Wassily Kandinsky, Max Beckman, Walter Gropius, Fernand Léger e os fundadores da Bauhaus.
Saltam aos olhos as diferentes posições políticas dos homens por traz das telas e esculturas apresentadas. Alguns expressam sua indignação, como Max Beckman que pintou "Auto-retrato com Corneta" (1938) após ser removido de seu cargo de professor em Frankfurt.
Marc Chagall simbolizou o martírio dos judeus em "Crucificação Amarela" (1943). John Heartfield criou fama imediata com suas foto-montagens para publicações anti-Hitler. A hilariante "Liberdade Chamando: a História da Rádio Secreta Alemã" (1939) mostra efeitos surpreendentes criados muito antes da computação gráfica.
Entre os que ficaram em cima do muro se destaca Wassily Kandinsky, que chegou a expor na Paris ocupada. Outros preferiram esquecer a guerra e explorar a paisagem americana, como Fernand Léger em "Os Mergulhadores" (1942). Houve ainda os que se adaptaram sem problemas ao novo ambiente, como Piet Mondrian, que se dedicou à construção de um atelier em New York no qual pintava ao som de jazz como se estivesse de férias. Uma miniatura do prédio faz parte da mostra.
Documentos de imigração
A mostra não quer julgar o que a história já provou. A intenção é dar subsídios para que o público tire suas conclusões. Uma das salas é dedicada a cartas com pedidos -e negativas- de asilos processados pelo Comitê Emergencial de Resgate do governo americano. Outra exibe o curta "America and the Refugees: 1933-1945" intermitentemente. Fica claro que a política de imigração durante a guerra era ainda mais severa que a atual.
A exposição mostra ainda como a influência dos europeus na arte americana do pós-guerra foi facilitada pela aceitação de várias instituições de ensino. A colaboração mais marcante ficou por conta dos criadores da escola arquitetônica Bauhaus. Ludwig Mies Van der Rohe, Walter Gropius, Lásló Moholy-Nalgy, Josef Albers e Marcel Breuer formaram a nova geração de arquitetos americanos. O resultado pode ser visto até hoje pelas ruas de Chicago e Los Angeles.
A colaboração e aceitação dos imigrantes artistas foi levada a extremos, como quando a colecionadora Peggy Guggenheim se envolveu num efêmero casamento com Max Ernst. Para os amigos, Peggy criou a Galeria de Arte Surrealista em 1942. Nas paredes encurvadas, os surrealistas puderam extrapolar os sentimentos de perda que deixar Paris lhes causou.

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