São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Apagão não rima com televisão

Já deu para ter uma vaga noção dos transtornos que o racionamento de energia irá ocasionar. Quem se lembra dos apagões que o governo Montoro promovia nos fins de semana sabe que é bom, desde já, ir se desapegando de certos rituais, como acordar cedo no domingo para assistir às corridas da Fórmula 1.
E o pessoal do interior, que madruga para ver o "Globo Rural" e depois vai à missa? O padre que trate de ir pensando em adiantar o horário dos cultos.
Quer saber? Na pior das hipóteses, a gente deixa de ser telespectador. Essa coluna passa a falar de circo e está resolvido o problema.
A falta de energia é mesmo o fim da catacumba, mas, pensando bem, poderia ser muito pior.
Já imaginou se, em vez de ficar apenas no escuro e sem televisão, você tivesse de enfrentar um encontro às cegas com a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello? Isso, sim, é o que eu chamo de desgraça pelada e repoltreada.
Depois de me benzer três vezes, entrei no tal site americano para solteiros à procura de relacionamento, onde, sob o pseudônimo "absolut", o perfil de dona Zélia está disponível para quem deseja se comunicar com uma "mulher de 47 anos, virginiana, loira, com olhos verdes e doutorado em estudos econômicos, romântica e espiritualizada". Já pensou no tamanho da encrenca?
E adivinhe qual é um dos três requisitos essenciais que dona "ex-ministra procura" menciona quando descreve seu candidato ideal?
Bravo! É isso mesmo. Está escrito lá com todas as letras: "honesto". Coitado do gringo que estiver procurando economista de meia-idade na internet!
E, como só nos resta fazer troça, veja só: outro dia, largada na banheira feito uma Rebordosa rediviva, deixei aflorar minha veia artística e imaginei uma performance para dar o que falar na próxima Bienal Internacional de São Paulo.
Pensei em pegar o Gugu Liberato, o Clodovil, a colega dele, Christina Rocha, a Sônia Abrão, a Márcia Goldschmidt, a Gretchen, a Elba Ramalho, só porque agora inventou que foi "chipada", e o incrível Jean-Claude van Damme e trancar todos em uma sala sem janelas, sem cadeiras e sem um copo d"água sequer.
Depois de umas duas ou três horinhas, de surpresa, eu soltaria um porco no meio do salão, só para ver no que dava.
O que você acha? Minha performance não teria grandes chances de entrar para a história da arte do novo milênio como manifesto incontestável sobre a grandeza da condição humana?

E-mail: barbara@uol.com.br

Internet: www.uol.com.br/barbaragancia


Texto Anterior: Novela das oito gera polêmica
Próximo Texto: Artes plásticas: Waltercio Caldas expõe razão e sensibilidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.