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BARBARA GANCIA
Apagão não rima com televisão
Já deu para ter uma vaga noção dos transtornos que o racionamento de energia irá ocasionar. Quem se lembra dos apagões
que o governo Montoro promovia
nos fins de semana sabe que é
bom, desde já, ir se desapegando
de certos rituais, como acordar
cedo no domingo para assistir às
corridas da Fórmula 1.
E o pessoal do interior, que madruga para ver o "Globo Rural" e
depois vai à missa? O padre que
trate de ir pensando em adiantar
o horário dos cultos.
Quer saber? Na pior das hipóteses, a gente deixa de ser telespectador. Essa coluna passa a falar
de circo e está resolvido o problema.
A falta de energia é mesmo o
fim da catacumba, mas, pensando bem, poderia ser muito pior.
Já imaginou se, em vez de ficar
apenas no escuro e sem televisão,
você tivesse de enfrentar um encontro às cegas com a ex-ministra
Zélia Cardoso de Mello? Isso, sim,
é o que eu chamo de desgraça pelada e repoltreada.
Depois de me benzer três vezes,
entrei no tal site americano para
solteiros à procura de relacionamento, onde, sob o pseudônimo
"absolut", o perfil de dona Zélia
está disponível para quem deseja
se comunicar com uma "mulher
de 47 anos, virginiana, loira, com
olhos verdes e doutorado em estudos econômicos, romântica e espiritualizada". Já pensou no tamanho da encrenca?
E adivinhe qual é um dos três
requisitos essenciais que dona
"ex-ministra procura" menciona
quando descreve seu candidato
ideal?
Bravo! É isso mesmo. Está escrito lá com todas as letras: "honesto". Coitado do gringo que estiver
procurando economista de meia-idade na internet!
E, como só nos resta fazer troça,
veja só: outro dia, largada na banheira feito uma Rebordosa rediviva, deixei aflorar minha veia
artística e imaginei uma performance para dar o que falar na
próxima Bienal Internacional de
São Paulo.
Pensei em pegar o Gugu Liberato, o Clodovil, a colega dele,
Christina Rocha, a Sônia Abrão,
a Márcia Goldschmidt, a Gretchen, a Elba Ramalho, só porque
agora inventou que foi "chipada", e o incrível Jean-Claude van
Damme e trancar todos em uma
sala sem janelas, sem cadeiras e
sem um copo d"água sequer.
Depois de umas duas ou três horinhas, de surpresa, eu soltaria
um porco no meio do salão, só para ver no que dava.
O que você acha? Minha performance não teria grandes chances
de entrar para a história da arte
do novo milênio como manifesto
incontestável sobre a grandeza da
condição humana?
E-mail: barbara@uol.com.br
Internet: www.uol.com.br/barbaragancia
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