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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ANÁLISE

Artista transferiu tecnologia da Europa

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Samson Flexor (1907-71) foi o pós-guerra entre nós. Trouxe a São Paulo técnicas das escolas de Paris para ensinar. A angústia, porém, acompanhava o artista.
A juventude foi marcada pelo aprendizado e experimentação do supra-sumo da vanguarda na França. Educado na Escola Superior de Belas-Artes e na Academia Ranson, participou desde 1926 dos moderníssimos salões de Outono, das Tulherias e dos Independentes, lançando o próprio, entre 1929 e 1938: o Salon des Surindépendents. Conviveu com Léger, Matisse e Lothe.
Além do cubismo, marcou-lhe o traço o dilaceramento expressionista, como atestam os retratos daquele período.
Os horrores da guerra trazem-no ao Brasil. Entre 1946 e 1948, aqui está em visita ao cunhado e acaba por se fixar. A pintura logo abraça o novo lar. A maturidade traz um compromisso com o desenvolvimento brasileiro por meio da implantação e difusão do abstracionismo. Flexor converteu-se ao estilo somente no Brasil, figurando entre os primeiros praticantes entre nós.
A estruturação geométrica da pintura e desenho era fundamento há muito dominado. A tecnologia européia foi transferida para São Paulo por duas vias principais: exposição e docência.
Em 1949, Flexor já é um dos três únicos representantes do Brasil na curadoria que inaugura o debate figuração versus abstração entre nós. Além dele, apenas Cícero Dias e Waldemar Cordeiro.
Dois anos depois, funda o Atelier Abstração, escola onde se ensina e defende a doutrina da "ordenação calculada de formas e cores". Junto aos pupilos, destacam-se como grupo na segunda Bienal de São Paulo, em 1953.
A ilusão geométrica de contribuir para um país moderno acabou-se quando as obras do Abstração, regressas de mostra em Nova York, foram leiloadas e dispersas pela alfândega brasileira, que as reteve e perdeu por engano, em 1958.
A racionalização de linhas e cores substituía a figura. Mas o represamento das imagens não duraria muito. Fechada a escola, vemos os traços, antes retos e duros, serem diluídos em manchas que se escorrem pela década de 60. Nos quatro últimos anos de vida, o pintor reencontra os próprios monstros: os borrões fazem bípedes disformes e simétricos.


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