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ANÁLISE
Artista transferiu tecnologia da Europa
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Samson Flexor (1907-71) foi o
pós-guerra entre nós. Trouxe
a São Paulo técnicas das escolas
de Paris para ensinar. A angústia,
porém, acompanhava o artista.
A juventude foi marcada pelo
aprendizado e experimentação
do supra-sumo da vanguarda na
França. Educado na Escola Superior de Belas-Artes e na Academia
Ranson, participou desde 1926
dos moderníssimos salões de Outono, das Tulherias e dos Independentes, lançando o próprio, entre 1929 e 1938: o Salon des Surindépendents. Conviveu com
Léger, Matisse e Lothe.
Além do cubismo, marcou-lhe o traço o dilaceramento expressionista, como atestam os retratos daquele período.
Os horrores da guerra trazem-no ao Brasil. Entre 1946 e 1948,
aqui está em visita ao cunhado e
acaba por se fixar. A pintura logo
abraça o novo lar. A maturidade
traz um compromisso com o desenvolvimento brasileiro por
meio da implantação e difusão do
abstracionismo. Flexor converteu-se ao estilo somente no Brasil,
figurando entre os primeiros praticantes entre nós.
A estruturação geométrica da
pintura e desenho era fundamento há muito dominado. A tecnologia européia foi transferida para São Paulo por duas vias principais: exposição e docência.
Em 1949, Flexor já é um dos três únicos representantes do Brasil
na curadoria que inaugura o debate figuração versus abstração
entre nós. Além dele, apenas Cícero Dias e Waldemar Cordeiro.
Dois anos depois, funda o Atelier Abstração, escola onde se ensina e defende a doutrina da "ordenação calculada de formas e cores". Junto aos pupilos, destacam-se como grupo na segunda Bienal de São Paulo, em 1953.
A ilusão geométrica de contribuir para um país moderno acabou-se quando as obras do Abstração, regressas de mostra em Nova York, foram leiloadas e dispersas pela alfândega brasileira,
que as reteve e perdeu por engano, em 1958.
A racionalização de linhas e cores substituía a figura. Mas o represamento das imagens não duraria muito. Fechada a escola, vemos os traços, antes retos e duros, serem diluídos em manchas que
se escorrem pela década de 60. Nos quatro últimos anos de vida,
o pintor reencontra os próprios monstros: os borrões fazem bípedes disformes e simétricos.
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