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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Retrospectiva exibe cerca de 70 obras depois de quase 30 anos sem uma grande mostra sobre o pintor

Ritmo de Samson Flexor modula exposição

ALEXANDRA MORAES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO

As modulações do franco-romeno Samson Flexor (1907-1971) e seus diversos caminhos por dentro da pintura ganham uma retrospectiva, "Samson Flexor: Modulações", no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, depois de quase 30 anos sem uma grande mostra de suas obras -a última foi realizada em 1975, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Além da oportunidade -rara, já que as obras estão dispersas entre colecionadores particulares e museus- de concatenar as telas de Flexor, a exposição dá ao público a chance de ver pela primeira vez alguns trabalhos. É o caso, por exemplo, do óleo realizado em 1952 por Flexor e encontrado, 50 anos depois, num antiquário parisiense, por seu ex-aluno Jacques Douchez. De 52 também é o vitral produzido para a família Hollnagel, em São Paulo, e cuja reprodução em escala natural é apresentada na mostra.
As obras, que ganham ressonância na incrível casa projetada no fim dos anos 40 por Olavo Redig de Campos, estão agrupadas de acordo com as várias fases do artista, a partir de sua primeira vinda ao Brasil, em 1946, e da atração de um pintor figurativo pela abstração.
"Logo depois da Segunda Guerra, Flexor busca uma nova forma de expressão, e sua obra muda completamente", explica a curadora da mostra, Denise Mattar. "Ele se volta para o cubismo e busca nova escala cromática."
O começo da mudança é evidenciado na obra "Xícaras" (1945), disposta ao lado de "Violão", "Naturezas-Mortas" e retratos já marcados por sua visita ao Brasil, alguns produzidos depois de sua chegada definitiva ao país, em 1948, quando se fixou em São Paulo.
Pouco depois de sua chegada, Flexor integra a exposição "Do Figurativismo ao Abstracionismo", no MAM paulistano, dirigido na época por Leon Dégand.
"Os únicos "brasileiros" daquela mostra eram Waldemar Cordeiro, Cícero Dias e Flexor", diz a curadora. Em 51, o artista inaugura o Atelier Abstração, onde leciona e se dedica ao abstracionismo.
"Ele cultivava uma posição muito diferente da de Waldemar Cordeiro, por exemplo, em relação à abstração. Flexor é muito mais musical do que matemático", diz Mattar. Não à toa: também pianista, o pintor nunca deixou de lado a paixão pela música. No vitral supracitado, por exemplo, notas musicais aparecem sub-repticiamente.
A segunda fase de Flexor, chamada pela curadora de "Abstração Plena", ganha um núcleo com algumas de suas obras fundamentais, como "Invenção Baiana" (1952). "A partir dessas curvas é que a obra dele adquire um ritmo mais brasileiro, até chegar ao ponto vertiginoso de obras como os "Vai e Vem'", explica Mattar.
Em seguida, vêm "Abstração Lírica", "Abstração Outra" e "Transparências", com a difusão das cores até o trabalho quase exclusivo com branco e cinza claro, no fim de sua vida, passando pela imponência de seus "Bípedes".
A mostra segue em agosto para a galeria de arte do Sesi, em SP, levando mais dez obras, como retratos anteriores aos anos 40, e uma boa notícia: a reedição, pela Edusp, de "Samson Flexor: Do Figurativismo ao Abstracionismo", livro de Alice Brill lançado em 1990 e de edição esgotada.


SAMSON FLEXOR: MODULAÇÕES. Onde: Instituto Moreira Salles (r. Marquês de São Vicente, 476, Gávea, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/3284-7400). Quando: de ter. a dom., das 13h às 20h. Até 20/7. Quanto: entrada franca.


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