São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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DVD/LANÇAMENTOS

Desafio aos mestres marca "Tóquio Violenta"

CRÍTICO DA FOLHA

Nos anos 50, a conversa dos jovens assistentes de direção japoneses consistia em buscar maneiras de desafiar os mestres (Ozu, Mizoguchi, Kurosawa), diz Seijun Suzuki na entrevista do DVD de "Tóquio Violenta".
Esse desafio foi vital para sua geração, acredita. Dessa vontade de mudança surgiu a "nouvelle vague" japonesa, da qual faz parte ao lado de Shohei Imamura, Nagisa Oshima, entre outros. Ao contrário desses, que montaram suas produtoras e se estabeleceram assim que se desentenderam com os estúdios para os quais trabalhavam, Suzuki tem uma história mais amarga: foi despedido da Nikkatsu em 1967 e ficou fora da indústria até os anos 80.
De sua fulgurante passagem pelo sistema de estúdios nipônico, "Tóquio Violenta" é uma amostra notável. Sua produção não difere muito dos filmes feitos por Suzuki para a Nikkatsu, que eram rodados em apenas 25 dias.
O tempo basta para que o diretor, especialista em filmes de gângsteres, dê a ver seu enorme talento: confrontos secos, cores berrantes (porém combinadíssimas), posições de câmera arrojadas, enorme sentido de tempo.
Sem contar a violência. Estamos no submundo de Tóquio (leia-se yakuza) e girando em torno de Tetsu, gângster que permanece fiel ao chefe quando abandona os negócios. Logo surge gente disposta a liquidar o chefe, mas Tetsu está sempre lá, em sua defesa.
Se o sentimento de solidariedade e pertencimento a um grupo orienta a narrativa, o filme se encaminha para outras paragens, em que o tom é dado pelo niilismo e solidão dos personagens.
Filmado há quase 40 anos, "Tóquio Violenta" permanece moderno. E dessa modernidade ajuda a dar conta a edição da Continental. A temível irregularidade dos DVDs dessa companhia dessa vez não se manifesta: a cópia está OK e a entrevista com Suzuki (feita quando de uma retrospectiva de seus filmes) vale mais do que a maioria dos making of que, em geral, se acrescentam nos discos. (INÁCIO ARAUJO)


Tóquio Violenta
    
Direção: Seijun Suzuki
Produção: Japão, 1965
Distribuidora: Continental



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