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"THE BUENOS AIRES AFFAIR"
Thriller sexual de Manuel Puig
não envelhece e ainda atormenta
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Experimental e atormentado, "The Buenos Aires Affair" (1973) não goza da mesma
celebridade de outros livros de
Manuel Puig (1932-1990), como
"O Beijo da Mulher-Aranha"
-levado às telas por Hector Babenco em 1985- ou "Boquitas
Pintadas". Este incômodo thriller
sexual, entretanto, é o melhor romance do escritor argentino.
Numa narrativa que entrelaça
linguagem cinematográfica com
ritmo de folhetim e transpõe o gênero policial para um cenário onde a presença da dramaticidade
musical e simbólica do tango é
constante, Puig constrói um legítimo "pulp fiction" à Argentina.
A ação se passa na Buenos Aires
dos anos 70, a mesma que levou o
escritor ao exílio. Nos períodos de
ditadura, Puig teve suas obras
censuradas, mas, mesmo depois
da abertura política, em 1983, não
voltou à Argentina. Sentia-se excluído por sua homossexualidade
e pouco valorizado como escritor.
Em "The Buenos Aires Affair",
Puig constrói dois protagonistas
paralelos que, ao se encontrarem,
causam mútua destruição. Ela é
Gladys Hebe D'Onofrio, artista
plástica que acaba de voltar de
uma tentativa frustrada de se estabelecer nos EUA, onde sofreu
uma agressão que a levou a usar
para sempre mórbidos óculos escuros e onde passava as noites em
devaneios masturbatórios.
Ele é Leopoldo Druscovich, crítico de arte que possui um pênis
descomunal e um desejo de violência incontrolável. Depois de
uma infância incestuosa e de uma
juventude marcada por um assassinato, Leo conhece Gladys e vê
nela a possibilidade de dar vazão a
seu ímpeto de agressão e morte.
Puig usa um sem-número de recursos para conduzir a trama. Obcecado por cinema -começou
escrevendo roteiros-, cita diálogos tirados de clássicos hollywoodianos e usa marcações e definições de ambientes como se estivesse elaborando um script.
É curioso que um romance assim nunca tenha sido filmado,
ainda que o excelente "Felizes
Juntos", de Wong Kar-wai seja livremente inspirado por ele.
Além do cinema, o autor também lança mão de entrevistas fictícias, diálogos telefônicos em que
só uma voz é ouvida e até uma autópsia para levar a trama.
Mais de 30 anos depois, o romance resiste melhor à passagem
dos anos do que os outros livros
do autor. Se "O Beijo da Mulher-Aranha" parece datado pelo discurso militante, "The Buenos Aires Affair" mantém atual o desconforto que causa ao tratar, de
modo atemporal, de sexo, violência e, indiretamente, de política.
The Buenos Aires Affair
Autor: Manuel Puig
Editora: José Olympio
Quanto: R$ 40,90 (254 págs.)
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