|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Aos 82 anos, autora de "As Meninas" recebe 100 mil euros do mais importante concurso de língua portuguesa
Fagundes Telles vence o Prêmio Camões
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Lygia Fagundes Telles, 82, foi escolhida ontem vencedora do Prêmio Camões 2005, o mais importante para autores de língua portuguesa. A autora de "As Meninas" receberá 100 mil (cerca de
R$ 310 mil). A cerimônia de premiação será em Lisboa, provavelmente em 10 de junho.
A autora paulista foi escolhida
por um júri formado pelos brasileiros Ivan Junqueira, presidente
da Academia Brasileira de Letras,
e Antonio Carlos Secchin, os portugueses Agustina Bessa-Luís
(vencedora do ano passado) e
Vasco Graça Moura, o angolano
José Eduardo Agualusa e o cabo-verdiano Germano de Almeida.
Os jurados se reuniram na Biblioteca Nacional, no Rio, durante
uma hora e 15 minutos até chegar
à decisão. O prêmio, uma parceria
dos governos brasileiro e português, é dado em razão do conjunto da obra.
Ela é o sétimo nome brasileiro a
ser escolhido em 17 edições do
prêmio. Já venceram o Camões o
poeta João Cabral de Melo Neto
(1990), Rachel de Queiroz (93),
Jorge Amado (94), Antonio Candido (98), Autran Dourado (2000)
e Rubem Fonseca (2003).
Entre os autores de outros países premiados estão os portugueses Miguel Torga (89) e José Saramago (95), o moçambicano José
Craveirinha (91) e o angolano José
Pepetela (97).
No Rio para participar da Bienal
do Livro, Lygia Fagundes Telles se
disse "muito emocionada e comovida" com o prêmio. "Preciso
segurar para não chorar", comentou, ao falar com a Folha por telefone, logo após receber a notícia.
"Certa vez, eu achei que o prêmio [Camões] vinha para mim.
Não veio. Mas os prêmios são como frutos: eles amadurecem e na
hora certa caem nas nossas
mãos", disse ela.
Uma vitória como essa lhe dá
um estímulo para prosseguir escrevendo. "É como se eu estivesse
no começo", emocionou-se. Ela
pretende lançar neste ano um livro de crônicas e acabar um romance. "A personagem está montada no meu ombro querendo
que eu acabe", brincou.
Carreira
Ela baliza o início de sua carreira
com o romance "Ciranda de Pedra", de 1954, marco de sua maturidade, na opinião do crítico Antonio Candido. Mas, na verdade,
já havia lançado antes os volumes
de contos "Porão e Sobrado" (38)
e "Praia Viva" (44).
"Eu não gosto de fazer sessões
de autógrafos porque sempre
aparece gente com esses livros.
Não sei como ainda encontram.
Não se lembrem desses, não
leiam. Eu comecei cedo demais",
contou ela, rindo.
Além de "Ciranda de Pedra",
Lygia Fagundes Telles escreveu os
romances "Verão no Aquário"
(63), "As Meninas" (73) -trama
que tem a ditadura militar como
pano de fundo e está entre as
maiores obras da literatura brasileira- e "As Horas Nuas" (89).
Entre seus volumes de contos,
estão "Antes do Baile Verde" (70),
"Seminário dos Ratos" (77), "A
Estrutura da Bolha de Sabão" (78)
e "Mistérios" (81). Boa parte de
seus livros foi escrita em uma máquina de escrever comprada em
Roma com seu ex-marido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles
Gomes (1916-77).
Desafeta do computador, que
uma vez "engoliu uma página linda" sua e não devolveu, ela não
deverá gastar em novas tecnologias seu vultoso prêmio.
"Eu sou pobre. Poderia andar
com uma placa: "Sou escritora",
para não correr o risco de ser seqüestrada. Agora, talvez precise
usar uma máscara", brincou.
Texto Anterior: "The Buenos Aires Affair": Thriller sexual de Manuel Puig não envelhece e ainda atormenta Próximo Texto: 12ª Bienal Internacional do Livro: Marie Darrieussecq apresenta ao Rio seu inconformismo Índice
|