São Paulo, Sexta-feira, 14 de Maio de 1999
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Filme cai no moralismo

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

"Studio 54" é mais uma etapa nessa revisão dos anos 70 que está assolando Hollywood nas últimas temporadas. Perto de algumas grandes fitas dessa safra como "Jackie Brown" e "Boogie Nights", a cinebiografia da casa noturna mais famosa daquela época não consegue ir além de boa reconstituição de penteados e modelitos.
Falta substância, falta uma boa história. A idéia de misturar um personagem real -Steve Rubell, dono do Studio 54- e vários ficcionais -os empregados da casa e uma atriz atrás da fama- cai na manjada fórmula moralista "bons garotos ficam iludidos pelo brilho do sucesso, mas recuperam valores morais e voltam a ser gente boa".
Talvez o diretor e roteirista Mark Christopher tivesse melhores resultados com o foco centrado na figura de Rubell, que já tem uma história bem interessante. Pelo seu sucesso na noite, deve ter sido uma figura bem mais fascinante do que a caricata interpretação de Mike Myers, que prova aqui não ser ruim apenas na comédia.
Mas o herói (?) do filme é Shane O'Shea, interpretado pelo bonitão da hora Ryan Phillippe, nome cotado para os projetos mais quentes dos próximos meses -inclusive o encantado "Homem-Aranha", de James "Titanic" Cameron.
Garotão simplório, Shane consegue um emprego de garçom no Studio 54, lugar que ele mitificava porque uma das frequentadoras assíduas é a starlet Julie Black (Neve Campbell, de "O Quinteto"). Logo na primeira noite de trabalho, Shane descobre que suas atividades incluem passar drogas para os fregueses e transar com alguns no escurinho dos balcões da casa.
A trama põe lado a lado o deslumbramento crescente de Shane e a decadência de Rubell, cada vez mais perdido entre drogas e problemas com os impostos. O garoto consegue fazer sucesso, escapar do assédio homossexual de Rubell, flertar com as drogas e conhecer a tão admirada Julie Black.
As idas e vindas do roteiro são previsíveis, e chega a ser irritante a confiança que o espectador tem na integridade de Shane. É palpável a sensação de que, a qualquer momento, ele vai largar aquele mundo "louco" e voltar a ser o que era.
Não existe nem sequer o perigo das más influências, já que seus melhores amigos também são um poço de integridade -outro garçom e a moça da chapelaria com vontade de ser cantora disco, interpretada pela insinuante Salma Hayek.
Os créditos finais do filme são acompanhados de uma longa sequência de fotografias reais feitas no Studio 54 durante os anos 70.
O desfile de celebridades é monumental, flagrando conversas de Sylvester Stallone, Robert DeNiro, John Travolta, Mick Jagger... Destaque para a foto de Bianca Jagger, então mulher do stone, entrando na discoteca montada num cavalo.
Ali, finalmente, o espectador tem idéia da importância da casa na cena dos anos 70, o que o resto do filme tenta mostrar, sem sucesso.


Avaliação:


Filme: Studio 54 Produção: EUA/99
Direção: Mark Christopher Com: Ryan Phillippe, Salma Hayek, Neve Campbell e Mike Myers Quando: a partir de hoje, no Cinearte 2



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