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CDs piratas do filme "Ataque dos Clones" são vendidos nas ruas de São Paulo por R$ 10
Os clones contra-atacam
Associated Press
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Cena de "Star Wars -°Episódio 2", que estréia em 1º de julho e já tem cópias piratas à venda |
HELOISA HELENA LUPINACCI
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 12 dias, como sempre fazem,
cerca de 40 fãs de "Jornada nas Estrelas" se reuniram em um bar em
Campinas para assistir a episódios do seriado. Antes dos filmes,
como sempre fazem, discutiram
qual das temporadas é melhor, será a clássica ou a nova geração? E,
como sempre fazem, não chegaram a conclusão nenhuma.
E então, como nunca acontece,
quem apareceu no telão do bar
não foi o dr. Spock, e sim o guerreiro jedi Anakin Skywalker com
seu sabre de luz. Não houve vaias,
pelo contrário. Nem a péssima
qualidade da imagem, o som
inaudível ou a falta de legenda fizeram os 40 fãs deixarem de
aplaudir "Star Wars - Episódio 2:
Ataque dos Clones".
E como é que um filme cuja estréia brasileira está programada
para 1º de julho foi parar em um
bar campineiro cheio de fãs de ficção científica? Pirataria. Um clone
do "Ataque dos Clones".
Não apenas em Campinas, a
aventura de George Lucas pode
ser encontrada hoje em qualquer
grande cidade do mundo. No Brasil, que só perde da China em pirataria, nem se fala. Em São Paulo,
o filme pode ser comprado em
bancas de camelôs ou lojinhas de
games e softwares a partir de R$ 5,
três por R$ 10. A Folha comprou
dois exemplares em CDs, que rodam em aparelhos de DVDs ou
computadores. Não só "Ataque
dos Clones" (CD duplo), como
outras produções que não estrearam aqui, como "Resident Evil" e
"Blade 2". E alguns em cartaz, caso de "Homem-Aranha".
Pirataria de fitas de vídeo já assola as distribuidoras há anos.
Contabiliza-se que, no Brasil, os
estúdios perdem US$ 130 milhões
com fitas VHS piratas (a indústria
de software perde o dobro, e a fonográfica, quatro vezes mais).
Os VCDs (Vídeo CDs), entretanto, são novidade. Começaram
a aparecer há um ou dois anos,
mas só agora estão se tornando
populares. Com o avanço tecnológico, barateamento de gravadores de CDs e de internet banda larga, muito mais gente pode assistir
ou até gravar CDs em casa.
No caso do "Ataque dos Clones", cópias piratas surgiram na
internet uma semana antes de seu
lançamento nos EUA, há um mês.
Daí para o CD caseiro foi um pulo. Imagina-se que a pirataria, geralmente executada de forma
mambembe, por alguém sentado
na platéia com uma minicâmera,
tenha sido feita na sessão para
2.000 jornalistas em Nova York.
Um milhão de americanos assistiram ao filme antes da estréia.
Mesmo assim, o combate à pirataria em VCD engatinha. "Ainda
não é uma ameaça", diz Ana Paula Imenez, supervisora de marketing da Columbia, que distribui
"Homem-Aranha". "Acho que
não perdemos venda nem público. A qualidade é ruim." A Fox,
que detém os direitos de "Star
Wars", informa que "não tem
opinião oficial sobre o assunto".
Um dos comerciantes que vendem pirataria afirmou que vendeu um VCD por dia de "Ataque
dos Clones", nos últimos dez dias,
e 25 cópias de "Homem-Aranha".
O webmaster M.K., 22, é fã de
desenhos animados japoneses.
Tem nada menos que 300 CDs do
gênero, todos pirateados pela internet e gravados em casa. De filmes, não é muito fã; tem "apenas
uns 20". "Comecei a baixar filmes
no ano passado, quando peguei
banda larga. Puxei o "Ataque dos
Clones" antes de estrear nos EUA,
mas irei ao cinema. O "feeling" é
outro", diz ele, que, para baixar
tanta coisa, já deixou seu computador ligado por dois meses e
meio ininterruptos (!).
Já o produtor gráfico M.A., 30,
comprou "Homem-Aranha" antes da estréia brasileira. Mas não
assistiu. "Não achei justo comigo
mesmo. Esperei a vida inteira por
um filme decente do Homem-Aranha. Agora, depois do cinema,
revejo as cenas, procuro erros de
continuidade. Sabia que tem uma
janela quebrada que depois aparece inteira?" Em tempos de pirataria, é provável que Hollywood se interesse em clonar um espectador zeloso como M.A.. E espalhá-lo pelos cinemas do mundo.
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