São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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CDs piratas do filme "Ataque dos Clones" são vendidos nas ruas de São Paulo por R$ 10

Os clones contra-atacam

Associated Press
Cena de "Star Wars -°Episódio 2", que estréia em 1º de julho e já tem cópias piratas à venda


HELOISA HELENA LUPINACCI
IVAN FINOTTI

DA REPORTAGEM LOCAL

Há 12 dias, como sempre fazem, cerca de 40 fãs de "Jornada nas Estrelas" se reuniram em um bar em Campinas para assistir a episódios do seriado. Antes dos filmes, como sempre fazem, discutiram qual das temporadas é melhor, será a clássica ou a nova geração? E, como sempre fazem, não chegaram a conclusão nenhuma.
E então, como nunca acontece, quem apareceu no telão do bar não foi o dr. Spock, e sim o guerreiro jedi Anakin Skywalker com seu sabre de luz. Não houve vaias, pelo contrário. Nem a péssima qualidade da imagem, o som inaudível ou a falta de legenda fizeram os 40 fãs deixarem de aplaudir "Star Wars - Episódio 2: Ataque dos Clones".
E como é que um filme cuja estréia brasileira está programada para 1º de julho foi parar em um bar campineiro cheio de fãs de ficção científica? Pirataria. Um clone do "Ataque dos Clones".
Não apenas em Campinas, a aventura de George Lucas pode ser encontrada hoje em qualquer grande cidade do mundo. No Brasil, que só perde da China em pirataria, nem se fala. Em São Paulo, o filme pode ser comprado em bancas de camelôs ou lojinhas de games e softwares a partir de R$ 5, três por R$ 10. A Folha comprou dois exemplares em CDs, que rodam em aparelhos de DVDs ou computadores. Não só "Ataque dos Clones" (CD duplo), como outras produções que não estrearam aqui, como "Resident Evil" e "Blade 2". E alguns em cartaz, caso de "Homem-Aranha".
Pirataria de fitas de vídeo já assola as distribuidoras há anos. Contabiliza-se que, no Brasil, os estúdios perdem US$ 130 milhões com fitas VHS piratas (a indústria de software perde o dobro, e a fonográfica, quatro vezes mais).
Os VCDs (Vídeo CDs), entretanto, são novidade. Começaram a aparecer há um ou dois anos, mas só agora estão se tornando populares. Com o avanço tecnológico, barateamento de gravadores de CDs e de internet banda larga, muito mais gente pode assistir ou até gravar CDs em casa.
No caso do "Ataque dos Clones", cópias piratas surgiram na internet uma semana antes de seu lançamento nos EUA, há um mês. Daí para o CD caseiro foi um pulo. Imagina-se que a pirataria, geralmente executada de forma mambembe, por alguém sentado na platéia com uma minicâmera, tenha sido feita na sessão para 2.000 jornalistas em Nova York. Um milhão de americanos assistiram ao filme antes da estréia.
Mesmo assim, o combate à pirataria em VCD engatinha. "Ainda não é uma ameaça", diz Ana Paula Imenez, supervisora de marketing da Columbia, que distribui "Homem-Aranha". "Acho que não perdemos venda nem público. A qualidade é ruim." A Fox, que detém os direitos de "Star Wars", informa que "não tem opinião oficial sobre o assunto".
Um dos comerciantes que vendem pirataria afirmou que vendeu um VCD por dia de "Ataque dos Clones", nos últimos dez dias, e 25 cópias de "Homem-Aranha".
O webmaster M.K., 22, é fã de desenhos animados japoneses. Tem nada menos que 300 CDs do gênero, todos pirateados pela internet e gravados em casa. De filmes, não é muito fã; tem "apenas uns 20". "Comecei a baixar filmes no ano passado, quando peguei banda larga. Puxei o "Ataque dos Clones" antes de estrear nos EUA, mas irei ao cinema. O "feeling" é outro", diz ele, que, para baixar tanta coisa, já deixou seu computador ligado por dois meses e meio ininterruptos (!).
Já o produtor gráfico M.A., 30, comprou "Homem-Aranha" antes da estréia brasileira. Mas não assistiu. "Não achei justo comigo mesmo. Esperei a vida inteira por um filme decente do Homem-Aranha. Agora, depois do cinema, revejo as cenas, procuro erros de continuidade. Sabia que tem uma janela quebrada que depois aparece inteira?" Em tempos de pirataria, é provável que Hollywood se interesse em clonar um espectador zeloso como M.A.. E espalhá-lo pelos cinemas do mundo.



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