São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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DAVID BOWIE AO VIVO

Cantor vai da faceta "corporativa" à crítica em show da atual turnê

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O conglomerado David Bowie Inc. fez seu mais recente balanço público para acionistas na última terça-feira no Roseland Ballroom, em Nova York. No palco, o CEO ele-mesmo, David Robert Hayward-Jones, 55, londrino de Brixton, morador da Baixa Manhattan, num apartamento luxuoso que fica a poucas quadras da Bolsa de Valores.
Na platéia, apenas os assinantes da chamada Bowienet, já que os ingressos deste primeiro show de uma série foram vendidos somente para os fãs inscritos no site oficial, www.davidbowie.com. Além disso, há o seu selo Iso, distribuído pela Sony, e o projeto Bowieart, que promove novos artistas plásticos.
Mas chega de metáforas. David Bowie dividiu a apresentação de duas horas. Na primeira parte, só tocou músicas do conceitual "Low" (1977), aquele em que flerta com a eletrônica e o rock alemão de então. Foi chato como... Chato como uma festa de contadores, cada um contando mais vantagem que o outro no balancete (ok, esta é a última).
Na segunda metade, a noite foi salva. Bowie desfilou quase na mesma ordem do CD o repertório de seu novo álbum, o excelente "Heathen". "It's the beginning of an end, and nothing has changed/ Everything has changed" começam os primeiros versos da primeira, "Sunday".
Nada realmente mudou. Ele é o mesmo seguro intérprete de si mesmo. Todo de preto, mais baixo do que se imagina, canta em frente a um cenário à "Twin Peaks", veludo vermelho com as letras de Bowie feitas de luzes. Na banda, três guitarras, baixo, bateria e dois teclados (um terceiro eventualmente pilotado por ele).
No final, "Hallo Spaceboy" (1995), "Ashes to Ashes" (1980) e "Fashion" (idem). A noite termina com o quarto bis, "I'm Afraid of Americans" (1996). Ele canta com uma mudança sutil na letra, que faz toda a diferença. Em vez de "Johnny", o personagem da música, ele diz "John", como na parte "Ah-ah-ah-ah ah-ah ah-ah-ah/John's in America".
O que antes celebrava um certo "american way of life" agora ganha outra leitura, principalmente se pensarmos que o atual secretário da Justiça do governo Bush é o ultraconservador John Ashcroft, cujas medidas antiterror vêm sendo criticadas por grupos de defesa dos direitos civis. "John precisa de conselho", brinca o músico durante a canção.
John precisa de conselho, e de um Congresso mais forte, e de uma imprensa mais crítica, e ver além do umbigo. Bowie sabe.


Avaliação:   


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