|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DAVID BOWIE AO VIVO
Cantor vai da faceta "corporativa" à crítica em show da atual turnê
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O conglomerado David Bowie Inc. fez seu mais recente balanço público para acionistas na última terça-feira no Roseland Ballroom, em Nova York.
No palco, o CEO ele-mesmo, David Robert Hayward-Jones, 55,
londrino de Brixton, morador da
Baixa Manhattan, num apartamento luxuoso que fica a poucas
quadras da Bolsa de Valores.
Na platéia, apenas os assinantes
da chamada Bowienet, já que os
ingressos deste primeiro show de
uma série foram vendidos somente para os fãs inscritos no site
oficial, www.davidbowie.com.
Além disso, há o seu selo Iso, distribuído pela Sony, e o projeto Bowieart, que promove novos artistas plásticos.
Mas chega de metáforas. David
Bowie dividiu a apresentação de
duas horas. Na primeira parte, só
tocou músicas do conceitual
"Low" (1977), aquele em que flerta com a eletrônica e o rock alemão de então. Foi chato como...
Chato como uma festa de contadores, cada um contando mais
vantagem que o outro no balancete (ok, esta é a última).
Na segunda metade, a noite foi
salva. Bowie desfilou quase na
mesma ordem do CD o repertório
de seu novo álbum, o excelente
"Heathen". "It's the beginning of
an end, and nothing has changed/
Everything has changed" começam os primeiros versos da primeira, "Sunday".
Nada realmente mudou. Ele é o
mesmo seguro intérprete de si
mesmo. Todo de preto, mais baixo do que se imagina, canta em
frente a um cenário à "Twin
Peaks", veludo vermelho com as
letras de Bowie feitas de luzes. Na
banda, três guitarras, baixo, bateria e dois teclados (um terceiro
eventualmente pilotado por ele).
No final, "Hallo Spaceboy"
(1995), "Ashes to Ashes" (1980) e
"Fashion" (idem). A noite termina com o quarto bis, "I'm Afraid
of Americans" (1996). Ele canta
com uma mudança sutil na letra,
que faz toda a diferença. Em vez
de "Johnny", o personagem da
música, ele diz "John", como na
parte "Ah-ah-ah-ah ah-ah ah-ah-ah/John's in America".
O que antes celebrava um certo
"american way of life" agora ganha outra leitura, principalmente
se pensarmos que o atual secretário da Justiça do governo Bush é o
ultraconservador John Ashcroft,
cujas medidas antiterror vêm sendo criticadas por grupos de defesa
dos direitos civis. "John precisa de
conselho", brinca o músico durante a canção.
John precisa de conselho, e de
um Congresso mais forte, e de
uma imprensa mais crítica, e ver
além do umbigo. Bowie sabe.
Avaliação:
Texto Anterior: Erika Palomino: O novo exército fashion do underground Próximo Texto: Música/Lançamentos - "Maladroit": Com novo álbum, Weezer ganha jogo logo no começo Índice
|