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CINEMA/ESTRÉIAS
"VIVA SÃO JOÃO"
Diretor acompanhou duas semanas de festas juninas feitas de vilarejos a grandes cidades do Nordeste
Andrucha Waddington faz inventário popular
MARIO SERGIO CONTI
DA SUCURSAL DO RIO
"Viva São João" é um documentário entusiasmado sobre um tema simpático: as
festas juninas. Ele mostra aspectos da música, da dança, da culinária, do vestuário e da religiosidade das festas de são João, são
Pedro e santo Antônio em 19 lugares, de vilarejos a grandes cidades dos Estados de Pernambuco,
Bahia, Ceará, Paraíba e Sergipe.
Como Gilberto Gil é produtor e
apresentador do filme, a música é
dominante. O compositor entrevista colegas músicos, explica por
que Luiz Gonzaga renovou a música sertaneja e interpreta clássicos de festas juninas. Como Gil é
baiano e adora uma prosa fiada,
às vezes suas entrevistas viram
bate-papos ao léu. A fala de Gil ziguezagueia entre a dicção poética
e a mística, de modo que se sente
falta de uma organização mais
consistente das informações.
Ele diz que as festas juninas têm
origem pagã. Diz que fogos e rojões comemoram um novo começo ou o início do tempo ou algo
que o valha. São informações sumárias, sem elaboração, que não
convencem. Se houvesse mais antropólogos e folcloristas falando,
o documentário seria mais claro.
Mas esse não era o objetivo do
diretor Andrucha Waddington.
Imagens e sons foram registrados
em duas semanas, durante as festas juninas do ano passado, e a
maior virtude do filme está em
aderir ao material filmado.
Com isso, o longa é um inventário da riqueza e da complexidade
de uma festa popular. Nela, o povo abandona por alguns dias sua
faina secular para comemorar a
fartura, a diversidade, a proteção
divina, a vivacidade. A cultura popular dá mostras de vigor.
O enfoque de Andrucha Waddington é simpático à organização popular. Como em "Eu Tu
Eles", ele celebra a integração social, a criatividade que brota da situação concreta comunitária e, à
sua maneira, resiste à exploração.
No melhor momento do filme,
que mostra a fabricação de busca-pés, essa celebração se estende ao
mundo do trabalho. Com montagem (de Quito Ribeiro) e edição
de som (de Miriam Biderman)
prodigiosas, o ritmo artesanal da
fabricação de busca-pés se transforma em música -que antecipa
o deslumbre e o risco da batalha
de fogos em praça pública.
Waddington é simpático, mas
não é ingênuo. Embora a festa popular seja mostrada como libertação, ele também capta os imensos
cartazes de propaganda, os palcos
enormes, a cara parafernália eletrônica que sustenta as festas.
O capital não está à espreita. Ele
já está mercantilizando muitas
festas juninas. Nada que se assemelhe ao que ocorreu com o Carnaval carioca. "Viva São João" registra a tensão entre comercialismo e festa popular. E deixa claro que, por enquanto, a festa e a cultura vêm levando a melhor.
Viva São João
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Brasil, 2001
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex e Interlar Aricanduva
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