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"MARGEM ESQUERDA"
Revista revela preocupação estética
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O nome bonito da revista
"Margem Esquerda" revela
que existe nela preocupação estética, daí a expectativa de que não
fique confinada somente à margem gauche do riverão Tietê.
Oxalá navegue em suas águas as
expressões do nacionalismo do
Terceiro Mundo como parte fundamental do "campo anti-capitalista e anti-imperialista".
A crítica marxista entre nós que
não levantar a auto-estima cultural dos brasis não cumprirá sua
função crítica, principalmente
porque continuamos sob o tacape
de governos inestéticos, cuja
orientação midiática é o karaokê
de programa de auditório.
Neste primeiro número, o melhor da contribuição estrangeira
aparece com Perry Anderson, que
tem se tornado para a cultura brasileira uma espécie de Waldo
Frank inglês, aconselhando aos
intelectuais o exercício de "uma
análise cáustica, irredutível e até
brutal do mundo tal como ele é".
Perry Anderson cita a jangada
neoliberal "Blair-Clinton-Cardoso" e alude à perspectiva de Zapata baixar em nosso terreiro.
São excelentes os artigos sobre o
governo Lula assinados por Francisco de Oliveira, Wolfgang Leo
Mar, José Fiori e Luiz Antonio
Magalhães. A essência da era feagaceana é um sistema em que o
emprego é mais importante do
que o trabalho. E mais: o trabalho
não é considerado fonte de geração de riqueza. O seu legado consiste na fragilização do Estado para que as decisões políticas e econômicas sejam tomadas fora daqui. Isso significa que o desafio do
governo atual é superar o medo
do FMI. Essa é a condição necessária à democratização do país.
Na maré alta do capitalismo videofinanceiro, a revista "Margem
Esquerda" estampa um "Manifesto" em que falta, no entanto, reflexão materialista sobre as Forças
Armadas brasileiras. Os leitores
ficarão contentes se a matéria política contemporânea não se traduzir em censura intelectual e estilística, conforme tem acontecido
a revistas de esquerda no Brasil.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor da Universidade Federal de
Juiz de Fora (MG).
Margem Esquerda
Editora : Boitempo
Quanto: R$ 20 (165 págs.)
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