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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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"MARGEM ESQUERDA"

Revista revela preocupação estética

GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O nome bonito da revista "Margem Esquerda" revela que existe nela preocupação estética, daí a expectativa de que não fique confinada somente à margem gauche do riverão Tietê. Oxalá navegue em suas águas as expressões do nacionalismo do Terceiro Mundo como parte fundamental do "campo anti-capitalista e anti-imperialista".
A crítica marxista entre nós que não levantar a auto-estima cultural dos brasis não cumprirá sua função crítica, principalmente porque continuamos sob o tacape de governos inestéticos, cuja orientação midiática é o karaokê de programa de auditório.
Neste primeiro número, o melhor da contribuição estrangeira aparece com Perry Anderson, que tem se tornado para a cultura brasileira uma espécie de Waldo Frank inglês, aconselhando aos intelectuais o exercício de "uma análise cáustica, irredutível e até brutal do mundo tal como ele é".
Perry Anderson cita a jangada neoliberal "Blair-Clinton-Cardoso" e alude à perspectiva de Zapata baixar em nosso terreiro.
São excelentes os artigos sobre o governo Lula assinados por Francisco de Oliveira, Wolfgang Leo Mar, José Fiori e Luiz Antonio Magalhães. A essência da era feagaceana é um sistema em que o emprego é mais importante do que o trabalho. E mais: o trabalho não é considerado fonte de geração de riqueza. O seu legado consiste na fragilização do Estado para que as decisões políticas e econômicas sejam tomadas fora daqui. Isso significa que o desafio do governo atual é superar o medo do FMI. Essa é a condição necessária à democratização do país.
Na maré alta do capitalismo videofinanceiro, a revista "Margem Esquerda" estampa um "Manifesto" em que falta, no entanto, reflexão materialista sobre as Forças Armadas brasileiras. Os leitores ficarão contentes se a matéria política contemporânea não se traduzir em censura intelectual e estilística, conforme tem acontecido a revistas de esquerda no Brasil.


Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).

Margem Esquerda
    
Editora : Boitempo
Quanto: R$ 20 (165 págs.)



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